quinta-feira, 19 de abril de 2007

Especial: Minha história com Traveling Wilburys e Tom Petty






Provavelmente a história foi assim: 1988, começa o burburinho em torno da formação de uma mega banda composta por Bob Dylan e George Harrison. Meses depois, a Veja revela a história. A banda era composta por Dylan, Jeff Lynne (ex-Love e ex-Elo), Tom Petty, Harrison e Roy Orbison (retirado de um ostracismo de 15 anos, causado por tragédias pessoais).
Por problemas contratuais com suas respectivas gravadoras, o quinteto não podia assinar o disco com seus verdadeiros nomes e eles tornavam-se, momentaneamente os irmãos Lucky (Dylan), Otis (Lynne), Nelson (Harrison) e Lefty Wilbury (Orbison), acrescidos do primo mais novo, Charlie T. Jnr (Petty).


Logo depois, o Fantástico exibiu o clipe de “Handle With Care” e contou a história triste de Roy Orbison (ele receberá um capítulo à parte neste blog), que após gravar com os Wilburys, retomou a carreira e faleceu justamente no dia que seu maior sucesso após “Pretty Woman”, “You´ve Got it”, era lançado.


“Uau!”, pensei, “eu tenho que ter esse disco”. Lembro até hoje dos meus parcos pelos de garoto de 15 anos, arrepiados com a matéria do Fantástico. Não demorou muito, juntei uns caraminguás, provavelmente catando garrafas e jornais na escadaria do Ouro Verde, com a ajuda de mamãe, claro, comprei o disco The Traveling Wilburys.

E que disco! E a razão de seu sucesso é que o supergrupo não criou super expectativas, já que manteve tudo no maior sigilo possível e não excursionou. Pela primeira vez um disco meu emocionava meu pai. “Rattled”, cantada por Lynne, tinha uma batida country acelerada, que lembrava baião com rastapé e mexia com ele, que pediu para que eu gravasse a música numa fita. Orbison emocionava com “Not Alone Anymore”, Dylan, com “Congratulations” e Harrison, com “Heading For The Light”.

Como na música, uma coisa leva a outra e comecei a pensar: e esse Tom Petty, hein??? Logo depois, em 1989 mesmo, ele lançava seu primeiro álbum solo, o Full Moon Fever, que “só” tinha “Free Fallin”, “It Won´t Back Down”, com direito a Harrison tocando violão (o clipe mostra Ringo Starr na bateria, mas quem toca mesmo é Phil Jones), “A Face in The Crowd”, e uma cover sensacional de “Feel a Whole Lot Better”, que me levou aos Byrds (que terão inúmeros capítulos a parte neste blog).


Com a popularidade dos Wilburys, que não podiam excursionar, Petty tornou-se um artista conhecido mundialmente, o que não havia conseguido plenamente com seus álbuns com o Heartbreakers até então. Aliás, não foi só Petty e Orbison que aproveitaram a onda Wilburys. Harrison, não antecipação causada pelo burburinho, lançou o lindo Cloud Nine (1987) e Mr. Dylan, Oh Mercy (1989).


Minha busca por Petty continuou. Lembro que uma tarde fui com o Mauro na casa de um colega de escola dele, que morava numa cobertura na Vila Rica (era a primeira vez que entrava numa cobertura e a primeira vez que entrava num prédio na Vila Rica, microbairro de Santos por onde só passava a caminho da escola). O cara vivia viajando para os States e adorava Petty. A cada ano, trazia as novidades, até o chato Southern Accents (1985), produzido pelo chapa Dave Stewart.


De qualquer forma, não foi lá que conheci o singelo Long After Dark (1982), que tem o clássico “You Got Lucky”, de sonoridade new wave, e afetado, claro, pelo som americano dos anos 80, cujo clipe eu conheci em um especial do Petty exibido pela Manchete. Dez anos depois, em outubro de 1992, o disco estava na minha coleção.

O álbum tem também as ótimas “Deliver Me”, “We Stand a Chance” e “The Same Old You”, com a melhor formação da banda: o parceiro Mike Campbell, na guitarra solo, o brilhante Benmont Tench (teclados), Stan Lynch (bateria) e o chapadão Howie Epstein (baixo, morto em 2003).

Dois meses depois comprei, ainda em vinil, Into The Great Wide Open (1991), o retorno de Petty com a formação clássica dos Heartbreakers, com participações do produtor e parceiro Jeff Lynne em várias faixas e de Roger McGuinn (Byrds), no coro de “All The Wrong Reasons”.

Esse disco foi o meu presente de Natal de 1992. Uma viagem por sonoridades americanas, o disco já começa por sua bela capa: um detalhe do quadro “Landscape”, de Jan Matulka, de 1926, quase naiff, na contracapa, uma bela tapeçaria, meio indígena, emoldura a foto da banda.

O álbum é perfeito. Tem o hit “Learning to Fly”, a belíssima “The Dark Of The Sun”, um álbum extremamente estradeiro, como sempre acaba sendo com Petty, com suas histórias belíssimas, como a do porteiro de boate, Eddie, que queria ser star, e vai para Hollywood tentar a sorte assim que termina o colegial, na faixa-título.


Petty ainda gravou discos belíssimos, como o solo Wildflowers (1994), mas minha busca por seu trabalho concentrou-se mais no som dele nos 80 e começo dos 90. Em 1998, em Praga, achei numa liquidação Damn The Torpedoes (1979), que abre com o tríptico clássico “Refugee”, “Here Comes My Girl” e “Even The Losers”, todas velhas conhecidas do especial da Manchete anos antes. O disco, produzido por Petty e Jimmy Iovine e o engenheiro de som Shelly Yakus, que depois trabalharam com o U2, tem uma sonoridade bem 80´s, apesar de as raízes do cantor/compositor/guitarrista estarem todas lá. Pois é, mais uma vez, uma coisa leva a outra.

P.S.: Tenho também do Petty o álbum Let Me Up, I´ve Had Enough (1987), que tem “Jammin´Me”, parceria com Dylan, mas não gosto do disco.

Other Stuff: Wilburys, Long After e Into The Great, vinis nacionais originais em edição completa, com encartes. Full Moon, edição nacional original em CD, com encarte completo, com letras e fotos. O Damn tem edição alemã, com encarte mostrando todo o catálogo de Petty até 1993.

Cotações:
Traveling Wilburys, The Traveling Wilburys (1989) - *****
Tom Petty, Full Moon Fever (1989) - *****
Tom Petty and The Heartbreakers, Damn The Torpedoes (1979) - ****1/2
Tom Petty and The Heartbreakers, Long After Dark (1982) - ***1/2
Tom Petty and The Heartbreakers, Into The Great Wide Open (1991) - ****

segunda-feira, 2 de abril de 2007

The Rolling Stones, Sticky Fingers (1971)

Muita gente não entende (nem nunca vai entender) qual o tesão de ainda se ter discos de vinil. Durante alguns anos, desde que mudei para São Paulo, ouvi muito pouco meus long plays e desejava fazer isso ardentemente. Os escutava apenas quando ía a Santos, pois em Sampa eu não tinha uma pick-up para ouvi-los, mas queria tê-los perto de mim, tanto que trouxe a maior parte deles para cá há três anos, porque comprar uma vitrola era uma meta.


Não comprei a vitrola, mas agora estou dividindo um apê com dois amigos e um deles trouxe um som com toca-discos. Aleluia! E os agudos estão todos lá, os baixos pulsantes. E qual foi minha alegria ao reouvir o meu Sticky Fingers. Um vinil quase da minha idade (a prensagem nacional da edição que eu tenho é de 1976!).


Ontem, não era o Marcelo de 32 anos que escutava aquele disco. Era o garoto de 16 anos que o comprou de segunda mão na Teia de Aranha numa tarde de sábado, provavelmente, no mês de março de 1991. E o garoto girava pela sala tentando pegar os acordes com seu violão, e cantava todas. (N. do A.: Eu tenho uma memória incrível, eu sei, mas não é caso dessa vez. Em todos os meus vinis, exceto os que eu comprei do meu primo Vanderson, quando ele virou crente, eu coloquei a data em que eu comprei na borda de dentro da capa. OK, eu sei, eu sou paranóico).


Para mim, a fase dos Stones com o Mick Taylor (1969-1975) é a melhor fase dos Stones. Keith estava viciado em heroína, Mick Jagger perambulava pelo jet set e quem segurava a banda era a banda. E nesse disco Taylor, o baixista Bill Wyman, o baterista Charlie Watts e colaboradores usuais do grupo, como o sexto Stone, Ian Stewart (piano), Billy Preston (órgão), Nicky Hopkins (piano) e Bobby Keys (sax), soam tão coesos, que nem parece que o álbum foi gravado sob circunstâncias árduas.


Você sabia, por exemplo, que, além de belos backing vocals, Keith Richards mal conseguiu tocar guitarra em “Wild Horses”? Isso só para ficar num exemplo. Na belíssima “I got the Blues”, o solo é de órgão, tocado por Preston, e por aí vai, sem menosprezar Jagger e Richards que compuseram neste álbum algumas de suas melhores canções. Além das já citadas, o disco tem “Sway”, “Brown Sugar”, “Bitch”, “Dead Flowers” e “Sister Morphine”, que Marianne Faithfull diz que é dela.


Cotação: *****


Other Stuff

Edição brasileira com a arte de Andy Warhol completa, inclusive o zipper que permite ver o que está por baixo daquele par de jeans (não sei como a censura da ditadura deixou passar essa capa). O encarte está completo, com a foto fantástica da banda, também de Warhol, e o serviço completo, informando quem tocou o quê.


Cotação: *****