sábado, 24 de outubro de 2009

Wry, Sesc Vila Mariana, 08.10.09*


Com um pouco de atraso, conto aqui sobre o show do Wry no Sesc Vila Mariana, em São Paulo, no último dia 8 de outubro, o último show da turnê do CD She Science no Brasil após a volta dos meninos de Sorocaba ao país.


Primeiro lugar, o imprevisto. Quinta-feira, saíram de Sorocaba cinco horas antes do show, com o intuito de chegar mais cedo e passar o som. Eles nunca gastaram mais de uma hora e meia para chegar em São Paulo (a viagem é de 90 km), mas levaram cinco horas. Resultado, chagaram 20h20, 10 minutos antes do horário previsto para o início do show.

Pressionada pelo pessoal da técnica do Sesc, a banda teve que encurtar o repertório e, praticamente, passar o som no palco, com tudo plugado. Apesar dos percalços, o Wry fez um show maravilhoso. Como de costume, Mario foi o entertainer na noite dedicada ao som shoegaze. Não faltaram olhares para o chão durante a execução das músicas, especialmente do baixista W27, que parece tocar em transe, mas Mario é uma simpatia, sempre puxando papo e pedindo para que luzes fossem jogadas sobre a plateia, "para ver quem veio".

E o público que encheu meio auditório do Sesc sabia que nada os decepcionaria. Eu não via o Wry há anos. Salvo engano ou excesso de álcool, não consegui vê-los da última vez que eles estiveram no Brasil durante os 7 anos em que ficaram na Inglaterra gravando, vivendo, sofrendo e burilando seus sons na friaca britãnica, conhecendo gente bacana como Tim Wheeler, Gordon Raphael, e seus ídolos do My Blood Valentine, com quem até tomaram umas e outras.

E realmente o show foi fantástico, perfeito, atraindo inclusive novo público para a banda, como por exemplo, minha mulher, Rosa Clara, que curte mesmo é uma boa MPB. No fim do show, ela me surpreendeu dizendo que gostou e afirmando que "o barulho do Wry fazia todo o sentido, porque você vê que eles tem uma proposta, é arte pura". E é verdade.

Mesmo sem poder exibir as projeções que pretendiam mostrar, a banda foi coesa e escolheu o melhor do passado e do presente da banda, como numa prestação de contas de tudo o que viveram e aprenderam nesses mais de 15 anos de estrada (o meu primeiro contato com o Wry foi em 1995, quando eles foram a Santos tocar com o Train Crash os sons da demo Morangoland).

Houve canções antigas, como um trecho de "Under The Sky", de 1998, no fim do show, e novidades como "Dois Corações e o Sol", de She Science, lançada este ano, de versos belos como "quero entender os motivos de se esconder/de fugir do mundo"... "esses meus sonhos são memórias do que será/ então só quero dois corações e o sol". Outro destaque é a novíssima "nossa estória começa agora". E, claro, não poderia faltar a canção preferida de Mario (e a minha também): "Different From Me", lançada ano passado.


Fantástico também foi poder rever o talento de Renato Bizar na bateria. Renato voltou a banda este ano, com o retorno do grupo ao Brasil. A saudade bateu e ele havia voltado pra Sorocaba antes do grupo. Sua alegria em tocar é contagiante. Impressionante também a quantidade de ruídos e fluidos que Luciano Marcello e Mario tiram de suas guitarras, formando uma parede intensa de som e fúria. Que eles continuem. Amém. Só faltou "Sleeper".

Set List

1. Sister - 2. Never Sleep (When I Go) - 3. Bitter Breakfast - 4. Million Stars In Your Eyes - 5. Disorder - 6. Dois Corações e o Sol - 7. Nossa Estória Começa Agora - 8. In The Hell Of My Head - 9. Cancer com interferência de Under de Sky no final barulhento.

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William Leonotti -W27

Imprensa: Rogerio Garcia
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* Publicado originalmente por MO no blog AmplificaSound

domingo, 5 de julho de 2009

Nasi: sozinho e apaixonado


Depois do traumático e nada diplomático rompimento com o Ira!, em 2008, após uma briga por questões trabalhistas com o irmão que era empresário do grupo, Nasi resolveu recomeçar “sozinho e apaixonado”, como canta nos versos de “Bebendo Vinho”, do bardo gaúcho Wander Wildner, gravada pelo Ira! em 1999 no álbum “Isso é Amor”, e retomada agora para abrir o show que realizou ontem à noite, no Teatro do Sesc, em Santos, o primeiro na atual formação de sua banda solo, cuja turnê começou em março deste ano.

A escolha não foi à toa. Paixão pelo que faz e uma nítida solidão tornam os termos “sozinho e apaixonado” o moto perfeito desse artista, que não dá sinais de querer parar e que escolheu um repertório logicamente relacionado à sua própria carreira (e os mais de 20 anos com o Ira! não foram esquecidos) e ao momento artístico e pessoal que vive.

Como grande intérprete que é, Nasi não escolhe as músicas à toa. Seu principal critério parece ter sido as mensagens das letras das músicas e a identificação com os artistas que as gravaram originalmente. Parece ter havido também uma preocupação em evitar clássicos do Ira! de autoria do atual desafeto do guitarrista Scandurra, que ficou do lado do empresário irmão de Nasi e não do amigo de mais de 30 anos, na briga que levou ao fim da banda.

Ou seja, o show não teve “Envelheço na Cidade”, “Flores em Você”, “Dias de Luta” ou “Pobre Paulista”, músicas que segundo Nasi, em recente entrevista, remetem a um sentimento de amizade que não existe mais, e que ele não pretende tocar por um bom tempo. Das 23 músicas do show, apenas três tem assinatura 100% Edgard Scandurra.

Mesmo assim, a plateia estava ganha e o ovacionou em “Bebendo Vinho”. Essa escolha de palavras e canções não poderia ser mais apropriada quando Nasi continua o show com “Por Amor”, do recém-falecido Zé Rodrix e de Reinaldo Bessa, e “Pra Ficar Comigo”, versão dele e André Jung para “Train in Vain”, do Clash, ambas gravadas pelo Ira! no álbum “Acústico MTV” (2004), disco de maior sucesso da carreira da banda.

“Por Amor” traz os versos “movido apenas por amor vou em frente”, com a banda tocando pesado, rápido e alto, como deve ser num bom show de rock. A letra é uma síntese do Nasi apaixonado pelo palco e pelo público, que não consegue abandoná-lo, mesmo que “às vezes certo, às vezes meio confuso”, como os versos da canção. A fila de sucessos inicial termina com “Tarde Vazia”, clássico do Ira! de autoria de Ricardo Gaspa e Scandurra.

Na escolha minuciosa do repertório, Nasi não deixa de lado suas predileções ao tocar dois blues que gravou com o Nasi e os Irmãos do Blues, e uma versão blues de “Música Urbana”, da Legião Urbana, nem esquece de fazer um painel de sua carreira, lembrando, inclusive “Verdades e Mentiras”, que gravou com o Voluntários da Pátria, projeto que tocou paralelo ao Ira! no início da carreira da banda e que terminou, segundo suas próprias palavras “porque o vocalista brigou com a banda”. Nesse momento, em uma clara alusão à briga familiar que destruiu o Ira!, diz: “vocês são a minha família”.

Aproveita e também enaltece o underground, “dos bons tempos da Bela Vista”, bairro onde nasceu e no qual frequentava o Madame Satã, palco de vários dos grupos da época, e homenageia os colegas de banda, em especial o guitarrista Nivaldo Campopiano, que era do Muzak, da qual Nasi interpretou uma canção. “Esse é da turma que não se vendeu”, alfineta, ao elogiar o colega, que ocupa a dura função de tocar blues com solos límpidos e músicas do Ira! sem tentar imitar Scandurra. Nasi também agradeceu o amigo Johnny Boy, que gravou com o Ira! o álbum “7” (1996), mas está no baixo, substituindo o colega Ricardo Gaspa, do Ira!, que assumiu a função nos primeiros shows da turnê solo de Nasi. Completam a banda André Youssef (teclado) e Evaristo (bateria).

Recém egresso de uma homenagem prestada ao álbum “Krig-ha Bandolo!”, durante a última virada cultural em São Paulo, Nasi aproveitou-se e, claro, jogou para a plateia e incluiu um bloco de quatro canções de Raul Seixas: “Metamorfose Ambulante”, “As Minas do Rei Salomão”, “Mosca na Sopa” e “Sociedade Alternativa”.

Depois de “Eu Vou Tentar”, balada de Rodrigo Koala, gravada no último disco do Ira!, “Invisível DJ”, Nasi rendeu homenagem à Cazuza, com “O Tempo Não Pára”. Cada verso é respirado, cantado, ou melhor, cuspido. Na hora do verso “me chamam de ladrão, de bicha, maconheiro”, Nasi os adapta à sua vida e muda para “me chamam de bandido, louco e maconheiro”.

Um dos momentos mais bonitos do show foi a versão de “Eu Quero Sempre Mais”, também de “7”, em que Nasi deixou o público de Santos cantar a música praticamente na íntegra, a la Tim Maia, logo, logo vai estar no youtube, aposto. Em seguida, o primeiro bloco foi encerrado com o clássico “Núcleo Base”. Estas foram as duas únicas músicas da primeira parte do show de autoria “100% Scandurra”, o público aplaude Nasi e a banda, que sai abraçada do palco, de pé, e os chama de volta.

O bis começa apenas com Nasi e Johnny Boy numa versão linda de “O Girassol”, também de “7” (última música de Sandurra no show), e prossegue com uma versão raivosa de “Hoochie Coochie Man”, a cover de “Epitáfio”, gravada por Nasi na trilha da novela “Chamas da Vida”, uma versão linda para “É Preciso Dar um Jeito, Meu Amigo”, de Erasmo Carlos e Roberto Carlos, gravada pelo primeiro em 1971, no magnífico “Carlos, Erasmo”, “Teorema”, da Legião, gravada pelo Ira! em “Isso é Amor”, e, para fechar “Aluga-se”, de Raul.

quarta-feira, 10 de junho de 2009

Novos horizontes, 26 anos depois



Enquanto muita gente se questiona se ainda é necessário possuir música em mídias tradicionais (CD, DVD, etc) eu constantemente me pergunto o que ainda me leva a comprar música em mídias tradicionais? E a minha resposta é: “carinho pelo artista” e “inovação”. Somente estes dois princípios me levam a torrar grana nesses auto-presentes luxuosos.

Perto do meu aniversário de 35 anos, minha namorada pediu que eu escolhesse um presente. Naquele momento, o coração falou mais alto e pedi o CD novo do U2... Afinal, com eles tenho 22 anos de relação e, mesmo não tendo gostado na hora do clipe, nem da música “Get On Your Boots”, exibido no Fantástico (olha só, clipes pela primeira vez no Fantástico, voltamos aos anos 80 ou a MTV que é completamente incompetente mesmo?), decidi dar uma chance aos meus queridos irlandeses que, naturalmente, começam a ficar com os narizes mais aduncos e os cabelos mais ralos.

O disco, evidentemente, se não muda a minha vida, também não compromete. É um disco muito bom, no qual o U2 segue a trajetória iniciada em 2000, com “All That You Can´t Leave Behind”: misturar novos rumos com elementos que remetam a passos anteriores da banda.

Se “All That You...” e “How To Dismantle An Atomic Bomb” remetiam ao começo da banda e à sua fase épica, “No Line...” flerta com o período eletrônico, entre “Achtung Baby” e “Pop”, incluindo o disco do Passengers_ o álbum, inclusive, usa vários samplers de obras de Brian Eno nos anos 80 e, em “Magnificent” usa na introdução um tecladinho que orgulharia o Kraftwerk.

Feito esse parenteses para resenhar o novo disco do U2, o que impressiona mesmo, de verdade, em “No Line”, para aqueles que adquirirem o álbum pela forma tradicional, lerem as letrinhas pequenas, irem no site da banda, esperar para c*, é o filme “Linear”, dirigido por Anton Corbijn. Velho parceiro do U2, o diretor de “Control” (a cinebiografia de Ian Curtis), nos entrega um “filme-mudo” maravilhoso e entrega também que “No Line” era um álbum conceitual.

Vendo o filme “Linear”, o fã descobre que o disco deveria ter saído em 2008, que tinha outra ordem de faixas (veja ao final do post o comparativo entre o set do cd e o de Linear), uma música que não entrou no CD, “Winter”, e descobre que o disco para o qual Corbijn fez o filme é completamente diferente do lançado em 2009. A ideia da banda era ter um produto para agregar valor ao CD, ideal para fãs que possuem aparelho MP4, o que lhes permitiria ouvir o disco vendo o filme.

Algumas experiências do gênero já foram feitas por outras bandas. No Brasil, o formato dual disc foi muito usado para agregar um filme com o CD (em geral, imagens de making off da gravação). O próprio U2, em “How To...”, lançou uma edição que continha um CD extra com alguns vídeos, mas este caso é diferente, pois um filme média-metragem foi feito para o disco e com uma história, interpretada por atores. E é sensacional, imagens fortíssimas. Belíssimo.

Em resumo, “Linear” é um road-movie em que um policial francês, de origem árabe, abandona Paris, pega sua moto e parte rumo ao Mediterrâneo, com destino ao Marrocos, onde vai buscar seu amor e suas origens. No caminho, muito U2.

Enquanto o U2 preparava “No Line...”, escondidinha a banda fez um lançamento importantíssimo, em 2008. 25 anos depois, lançou em DVD o filme “U2 Live At Red Rocks – Under a Blood Red Sky”, de 1983, com cinco faixas a mais que o VHS original, exibido pela MTV americana na época. O DVD traz praticamente na íntegra a impressionante apresentação da banda, durante a turnê mundial de “War”, no anfiteatro Red Rocks, nas cercanias de Dever, Colorado, Só faltou “I Fall Down”, porque uma das câmeras sofreu uma pane durante a gravação, o que impediu a utilização da faixa.

O DVD, para quem conhece U2 de longa data, é emocionante. Eu, por exemplo, nunca tinha visto o U2 tocar “Two Hearts Beat As One”, “Seconds”, “I Threw a Brick Through A Window”, “A Day Without Me”, essas duas últimas estupendas, ao vivo.

Ver U2 “Live At Red Rocks” é como testemunhar a transposição do U2 de banda regional para banda mundial, como eles mesmos profetizaram no verso “In the shadow, boy meets man”, de Twilight, do álbum “Boy”, que não é sobre pedofilia, mas sobre amadurecimento_ aquele momento em que, do nada, a vida torna um garoto um homem.

Mas o que “Red Rocks” tem a ver com “Linear” ou “No Line...”? Tudo e Nada, eu diria. “Red Rocks” foi o fim da fase pós-punk do U2, entre “Boy” e “War” e o início da fase épica, americana, aberta com “Unforgettable Fire” e encerrada com “Rattle and Hum”. O que se vê no vídeo é essa transição. Num palco e com uma produção grande para a fase que viviam no período, o U2 rompe com seus colegas de pós-punk, como Roberto Carlos fez com a jovem-guarda e diz: “quero ser grande”.

Querendo ou não (eis o link com “No Line”), o U2 abriu, pela primeira vez na carreira, uma senda que outros grupos seguiram. Enquanto a MTV ficava desfilando cabelos ainda cheios de gel, laquê e muita, muita tinta ruim, em clipezinhos de qualidade duvidosa, o U2 mostrou que o que diferencia homens de meninos é o que uma banda pode apresentar num palco... E isso ninguém mais ousou duvidar.

Curiosidade, apesar de sempre associado ao show em Red Rocks, devido ao vídeo, o EP “Under a Blood Red Sky”, lançado naquele ano só tem duas músicas gravadas no show de Denver: “Party Girl” e “Gloria”. A maior parte das músicas de “Under A Blood...” foi gravada no festival RockPalast, na Alemanha Ocidental, em agosto de 1985, cujo vídeo, da TV WDR, foi lançado recentemente no Brasil sob o “criativo” título de U2 Live. Tem na baciada da Americanas.

Por falar em baciada, o lançamento de “Live at Red Rocks” no Brasil é um escândalo, um caso de crime contra o consumidor. O DVD só está disponível na Saraiva e na Siciliano pelo mesmo preço: R$ 49,90. Não há sinal do produto na Americanas, nem na FNAC, nem em lojas tradicionais de CD e DVD. Acabei de ver no site da Amazon que o DVD custa US$ 11 nos EUA, o que daria menos de R$ 30, com imposto de importação de 50%, caso o produto caísse no sinal vermelho da Receita, você pagaria mais R$ 15... Tá quase compensando importar....

Comparativo do set de “Linear” (esquerda) e “No Line”.

01. UNKNOWN CALLER ..............NO LINE ON THE HORIZON
02. BREATHE .....................MAGNIFICENT
03. WINTER ......................MOMENT OF SURRENDER
04. WHITE AS SNOW................UNKNOWN CALLER
05. NO LINE ON THE HORIZON.......I´LL GO CRAZY IF I DON´T GO CRAZY TONIGHT
06. FEZ-Being Born...............GET ON YOUR BOOTS
07. MAGNIFICENT..................STAND UP COMEDY
08. STAND UP COMEDY..............FEZ-Being Born
09. GET ON YOUR BOOTS............WHITE AS SNOW
10. MOMENT OF SURRENDER......... BREATHE
11. CEDARS OF LEBANON............CEDARS OF LEBANON

sábado, 7 de março de 2009

Corsage: três estreias ao mesmo tempo


Em 1990, quando se escrevia estreia com acento, o Corsage fazia seus primeiros ensaios e shows no litoral de São Paulo. No ano seguinte, nascia Kleberson, que hoje toca com o Corsage. Após uma longa pausa de 14 anos, dois shows em Santos, com a formação original, ontem, 6 de março de 2009, no Cultura Rock Clube, em Porto Alegre, foi o primeiro show do Corsage fora do Estado de São Paulo, a primeira apresentação de TV da banda, no programa Radar, da TVE gaúcha, e a debut de Keko, nome artístico do menino que nasceu em 1991.

E quer mais? Era a estreia de Keko como guitarrista solo do Corsage, função de Carlinhos, que não pode vir ao show por motivos familiares.

Como eu já disse em algum lugar aqui nesse blog (e se eu não disse, disse na cara do sujeito), assistir a um show do Corsage, em 1992, e sua mistura de Stooges, com pós-punk, Mudhoney, Velvet e barulhos, mudou meu jeito de pensar a música e os rumos de minha banda de então, a Nowhere.

Quando soube que eles voltariam, ano passado, fiquei extremamente feliz e ansioso. Quando soube, em dezembro passado, que eles tocariam em Porto Alegre, fiquei tentado a vir na hora. E vim. E testemunhei o primeiro show do Corsage fora de SP e o primeiro show de Keko com a banda. Infelizmente, perdi a apresentação na TV.

O Corsage não parou no tempo. Gravou este ano uma demo com dois novos sons: “Destruidor de Corpos”, versão em português de “Body´s Destroyer”, do Any Wise Pub, seminal banda de noise a qual o vocalista Toni integrou paralelamente ao Corsage, junto com o TC Zanin, que atualmente mora na Europa, e “Sobrevivente”, uma nova música.

O Cultura Rock Club pareceu o lugar ideal para esses momentos históricos. Ali funcionou durante anos o histórico Funilaria. Uma casa na Cidade Baixa, o bairro noir de Porto Alegre, com uma entrada triunfal e uma escada no meio. No lounge, fica montado o palco, com direito a abajures e discos colados no teto. No bar, cerveja barata. Na platéia, 22 santas almas assistiram, aplaudiram e curtiram o Corsage, como deveria ser.

A banda tocou o set previsto de 12 sons, incluindo covers de “Festa Punk”, para agradar os gaudérios, “Head On”, na versão dos Pixies, e “I Wanna Be Your Dog”, dedicada ao falecido Ron Asheton. Depois do set, com o consentimento de todos e para felicidade geral da nação, o Corsage fez um bis com “Body´s Destroyer”, no original, acrescida paradinha funérea acrescentada por Toni na versão nova e um replay de “Feel Your Hands”, que abriu o show.

SÁBADO - Eu já vi de tudo na vida noturna, mas o que aconteceu no que era para ter sido a terceira apresentação do Corsage em Porto Alegre, sábado (7), no Oh La La, no Bonfim, Porto Alegre, foi um absurdo. Duas bandas estavam programadas para tocar no lugar: o Corsage e o Reverso Revolver. No horário combinado, às 20h, o Corsage apareceu para passar o som. Não havia equipamento.

O P.A. (equipamento para a voz) estaria guardado numa sala fechada. O funcionário do bar trouxe a parte básica da bateria (bumbo, surdo, o chifre e um ton-ton), deixou no meio da sala onde seria o show, que não tinha luz e foi embora. O pessoal das bandas pediu e ele colocou uma luz no palco para que o equipamento fosse montado e acabou aí a participação da casa no show das duas bandas.

A casa não avisou o promotor do show, que não sabia o que se passava na casa, pois também não ligou para as bandas para saber o que acontecia. Resultado: 0h30, as duas bandas tentavam uma solução, pois faltava (se é que o P.A. existia, pois ninguém viu) um cubo de baixo e um ampli de guitarra. Resultado: o Corsage foi embora do Oh La La à 1h, deixando de cumprir um terço de sua missão em Porto Alegre.

Espero que, em São Paulo, quando o Corsage convidar alguma banda de Porto Alegre para tocar por lá, nada disso ocorra.

Estes foram os sets do Corsage ontem em POA:

Programa Radar: TVE

Sobrevivente
Destruidor de Corpos
My Shoes Hate Me
Feel Your Hands

Cultura Rock Club

Feel Your Hands
Destruidor de Corpos
Akire´s Dream
Head On
Another Hell
Walking Blind
Progesterone
Festa Punk
My Shoes Hate Me
Sobrevivente
A Clown on the Clouds
I Wanna Be Your Dog
Body´s Destroyer
Feel Your Hands (reprise)

domingo, 1 de março de 2009

O primeiro show de rock


Estou feliz. Ontem, cumpri uma autopromessa de quase cinco anos: levar minha filha a seu primeiro show de rock. Em 2004, quando ela tinha 3 anos, anotei num blog antigo que havia duas músicas que ela sempre me pedia: "O Sol que Me Ilumina", do bardo Wander Wildner, e "Dois a Rodar", do super grupo pop Ludov.

Eu e minha companheirona estávamos com muito calor e ela muito cansada de brincar numa festa de aniversário, mas rodamos uma hora de ônibus, da Pompéia ao Ipiranga, para vê-los tocar no Sesc.

Corremos e chegamos enquanto Vanessa cantava a primeira música sozinha ao violão, depois o grupo desfiou sua esteira de sucessos em formato semi-acústico (não foi 100% acústico, pois eles usaram baixo elétrico e escaleta em alguns arranjos), cantados em uníssono pelos fãs, que lotaram a área de convivência do Sesc.

Teve de tudo, canções do EP “Dois a Rodar” e dos dois álbuns: “O Exercício das Pequenas Coisas” e “Disco Paralelo”, além de duas ou três músicas que poderão entrar no próximo disco, que eles começam a gravar hoje. Boa sorte, queridos.

Minha filha querida mandou bem, arrumou um lugar entre duas senhoras que ocupavam um sofá, acompanhou com palmas, cantou as que conhecia, levantou para tirar fotos, como essa aí de cima, com meu celular tosquinho... Ela teve mais sorte que eu, o Ludov tocou a canção preferida dela: “Dois a Rodar”. Eu fiquei sem “Dorme em Paz” (como eu queria gritar aquele refrão!!!)... Voltamos felizes para casa, comentando o show no ônibus. Ela tem sete anos, quase oito. E eu tô muito feliz.

E para quem não conhece Ludov, reproduzo aqui um texto que escrevi num blog meu, que já morreu, sobre o glorioso disco “O Exercício das Pequenas Coisas”.

Friday, February 04, 2005
O DIA EM QUE O POP ROCK FOI FELIZ

Que delícia chegar em casa e encontrar o CD novo sobre a mesa. Que delícia saber que não errei na compra. Pois é. O EP "Dois a Rodar" pôs as cartas na mesa e deu todas as pistas. O álbum "O Exercício das Pequenas Coisas" apenas confirmou: o Ludov veio para ficar no cenário pop-rock nacional, mas não é só, pois já está fazendo história.
Este álbum de estréia (na verdade o terceiro do grupo, que havia gravado dois discos inteiros como Maybees) é o "Pet Sounds" atrasado do pop brasileiro. Essa banda de mão cheia, formada por Mauro Motoki (guitarra, teclados e outras coisas), Habacuque Lima (guitarra), Vanessa Krongold (voz), Edu Filomeno (baixo) e Paulo Chapolin (bateria), extrai de seu caldo de cultura formado por Beatles, Mutantes, Bossa Nova, Brit Pop Fofinho, Pato Fu, Los Hermanos, Beach Boys, Burt Bacharach, REM, Smashing Pumpkins (fase Mellon Collie), em uma combinação perfeita com a voz entre o raso e o profundo de Vanessa, que poderia ser definida como uma Fernanda Takai com a potência de Chrissie Hynde e Natalie Merchant, o pop rock mais perfeito já escrito no país.
Mérito de Motoki, Lima e Vanessa, os compositores do grupo, mas mérito também de um disco esmerado, incrivelmente bem produzido, sem preguiça de experimentar arranjos novos _arriscando mais no teclado, overdubando vozes, violões, acrescentando coros, novos instrumentos...

Apesar das diferentes fontes musicais e da mutante voz de Vanessa, o disco é coeso e flui sem grandes turbulências do princípio ao fim, entre baladas puras como a onírica "Sete Anos", com vocal de Motoki, ao momento 10,000 Maniacs de "Estrelas" e as simbioses agridoces e pesadas de "Kriptonita" (a faixa de trabalho) e "Dorme Em Paz" (para mim, candidata a hit).

Espaço não falta para a criatividade da banda, que dá um chega prá lá na inveja com a bela "Gramado" (Se o gramado ao lado todo esverdeado/ Parecer melhor que o seu/ Tome mais cuidado com esse mau olhado/Não venha cuspir no meu), sacode o esqueleto na instrumental 5upertrunfo (assim, com 5. Uma homenagem ao REM e seus 4´s nas letras???), faz um link com a Jovem Guarda na batida da guitarra em "Elastano" e dá um presentinho aos atrasadinhos com o hit "Princesa", que os levou a ganhar o VMB categoria "Revelação".

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

Snooze: cochilando só no nome


Rafael Jr. é um grande amigo, mas eu nunca vi Rafael Jr. O meu amigo é tudo o que eu quis ser um dia. Como eu, ele sonhava lá nos idos de 90 e poucos em ser músico e viver disso, mesmo tocando rock e em inglês. Hoje, enquanto escrevo resenhas, meu amigo é um profissional da música e, com ela, sustenta sua família. É respeitado no meio e tem sua fanbase (na qual me incluo).

Não se trata de auto-depreciação ou ironia, é apenas uma constatação feliz. Fico feliz por ele, por seu irmão e grande companheiro Fabinho. Eles são os cappi da banda Snooze, na ativa há mais de 15 anos, a melhor banda de indie rock viva do Nordeste, uma das mais melódicas do Brasil e mais rock´n´roll também, com certeza. E eles são de Sergipe, terra de meus pais e de meus avós.

Conheci Rafael em 95. Tava querendo me profissionalizar na música e, na raça, como estudante de jornalismo, levava a divulgação do Embryo (minha banda) nas costas. Copiava e mandava Brasil afora os releases que eu mesmo fazia e as cópias das demos que minha banda gravava nos estúdios de rádio da faculdade de comunicação da UniSantos.

Um dos fanzines para o qual mandava as fitas era o Cabrunco, de Jr e do jornalista Adolfo Sá. Escolhia os zines para os quais mandar as demos pelos nomes. E lógico que escolhi Cabrunco, porque pelo menos em casa, Cabrunco era um palavrão daqueles... Lembro que quando meu pai ficava realmente aperriado, revoltado das idéias, ele soltava um “fio dum cabrunco!”. E ai se eu repetisse... Quando perdia nos meus jogos de botão comigo mesmo eu soltava uns “cabruncos” de vez em quando. E ele dizia: “cabrunco é coisa ruim”... Hehehehe

E assim funcionavam as coisas, você mandava uma demo, recebia um fanzine e quando os caras dos zines eram legais e profissas como o Rafael, você recebia uma demo também. Depois de um tempo, a demo de sua banda recebia uma resenha. E uma das melhores demos que eu recebi naqueles anos maravilhosos de 95-96 foi a primeira do Snooze.

Eu era pirado nas duas primeiras faixas: “Someday” e “My Gramophone” e eu o Mauro e outros amigos ouvíamos vidrados a fitinha da Snooze (tenho ela até hoje). Eles misturavam tradições oitentistas com o melhor que rolava no mundo indie naquele tempo, pitadas de Sonic Youth, de My Blood Valentine, Pixies. O som tinha aquela suavidade indie, mas tinha um quê soturno, pós-punk, presente o tempo todo. E era (é) muito bom.

Nessas voltas que a vida dá, eu virei jornalista mesmo e o Embryo morreu de inanição, pois cada integrante morava num canto do Estado de S. Paulo. Fizemos um último show em setembro de 1996, eu e o Roberto (fundadores), o Shiro (guitarra) e o Aran (Bonequinho), no vocal, que vinha de Bauru, na raça, tocar com a gente e vez em quando. As demos estão aqui e eu vou digitalizar tudo em breve, assim como digitalizei parte do acervo de minha primeira banda, a Nowhere, que era outra praia.

Mas o Snooze não parou. A ferro e fogo e muitas mudanças de formação, Rafael e Fabinho foram levando, mesmo quando tiveram que morar em cidades diferentes. Gravaram dois Cds, o primeiro "Waking Up... Waking Down", saiu pela Short Records (SP), em 1998. Nesse disco estão “Life´s Good” e “How Can You Be Sure Today”, gravadas em 1997. Soube delas através de meu último contato postal com o grande Rafael.

E, nessas voltas que a vida dá, encontro um sujeito de nick Rafael Snoozer comentando uma foto de um velho ídolo meu, Johnny Hansen, no Orkut... Era, claro, o meu velho amigo Rafael Jr, direto de Aracaju. Entramos em contato e eu fui presenteado com o CD maravilhoso que o Snooze lançou em 2006 pela Monstro Discos/Solaris Discos, chamado Snooze, claro.

E os meninos não deixaram de ser eles mesmos, mas melhoraram, cresceram. É um prazer ouvir suas faixas encantadas. Rafael (bateria) e Fabio (baixo) tem a companhia, no disco dos guitarristas Clínio Jr e Marcelo Moura, outras duas feras.

A pegada está mais ainda calcada no rock´n´roll britânico, sem perder, claro, momentos de distorção e fuzz aquosos, como “Stay With Me/Noiserockisthejazzoffuture” com o vocal peculiar e belo de Fabio, seu baixo ondulante, e as viradas destemidas de Rafael, embrulhadas num mar de guitarras.

Em “Fado” e “Love and Death (No conclusions)”, a banda atinge os melhores momentos do CD. São faixas tranqüilas, suaves. “Love...”, especialmente, lembra muito, para mim, The Thrills e Teenage Fanclub. É interessante como a banda trabalha sua matéria prima básica, que é o rock, e a transforma em algo próprio, como o próprio Teenage e alguns poucos outros ainda fazem hoje em dia, esse entalhar artesanal.

Como disse no título, o Snooze cochila só no nome e, como todos nós, cresce e envelhece durante o torpor. Talvez os cochilos nas tardes quentes de Aracaju depois das cervejas antes e depois do almoço sejam a matéria prima desse sonho e o barril de carvalho que melhora o vinho. Long Live Rock!

Além dos dois discos citados, a banda ainda lançou, em 2002, "Let My Head Blow Up" pela parceria Monstro Discos/Short Records, com oito inéditas de estúdio e uma espécie de "Lado B" ao vivo, onde tem canções do primeiro disco, coisas inéditas e covers não creditados. Tem ainda a primeira demo em formato de CD-R, lançada em 2002 pela Solaris, considerado um play não-oficial pela banda, mas que é ótimo!!!

Aproveite e conheça o Snooze: http://www.myspace.com/snoozetherockgroup

P.S.: Rafael ainda é baterista em outra banda, a Maria Scombona, de música nordestina, de ramais tradicionais, misturados à poesia concreta do cantor e compositor Henrique Telles (outro dia eu falo dela aqui com mais carinho).