sábado, 7 de março de 2009

Corsage: três estreias ao mesmo tempo


Em 1990, quando se escrevia estreia com acento, o Corsage fazia seus primeiros ensaios e shows no litoral de São Paulo. No ano seguinte, nascia Kleberson, que hoje toca com o Corsage. Após uma longa pausa de 14 anos, dois shows em Santos, com a formação original, ontem, 6 de março de 2009, no Cultura Rock Clube, em Porto Alegre, foi o primeiro show do Corsage fora do Estado de São Paulo, a primeira apresentação de TV da banda, no programa Radar, da TVE gaúcha, e a debut de Keko, nome artístico do menino que nasceu em 1991.

E quer mais? Era a estreia de Keko como guitarrista solo do Corsage, função de Carlinhos, que não pode vir ao show por motivos familiares.

Como eu já disse em algum lugar aqui nesse blog (e se eu não disse, disse na cara do sujeito), assistir a um show do Corsage, em 1992, e sua mistura de Stooges, com pós-punk, Mudhoney, Velvet e barulhos, mudou meu jeito de pensar a música e os rumos de minha banda de então, a Nowhere.

Quando soube que eles voltariam, ano passado, fiquei extremamente feliz e ansioso. Quando soube, em dezembro passado, que eles tocariam em Porto Alegre, fiquei tentado a vir na hora. E vim. E testemunhei o primeiro show do Corsage fora de SP e o primeiro show de Keko com a banda. Infelizmente, perdi a apresentação na TV.

O Corsage não parou no tempo. Gravou este ano uma demo com dois novos sons: “Destruidor de Corpos”, versão em português de “Body´s Destroyer”, do Any Wise Pub, seminal banda de noise a qual o vocalista Toni integrou paralelamente ao Corsage, junto com o TC Zanin, que atualmente mora na Europa, e “Sobrevivente”, uma nova música.

O Cultura Rock Club pareceu o lugar ideal para esses momentos históricos. Ali funcionou durante anos o histórico Funilaria. Uma casa na Cidade Baixa, o bairro noir de Porto Alegre, com uma entrada triunfal e uma escada no meio. No lounge, fica montado o palco, com direito a abajures e discos colados no teto. No bar, cerveja barata. Na platéia, 22 santas almas assistiram, aplaudiram e curtiram o Corsage, como deveria ser.

A banda tocou o set previsto de 12 sons, incluindo covers de “Festa Punk”, para agradar os gaudérios, “Head On”, na versão dos Pixies, e “I Wanna Be Your Dog”, dedicada ao falecido Ron Asheton. Depois do set, com o consentimento de todos e para felicidade geral da nação, o Corsage fez um bis com “Body´s Destroyer”, no original, acrescida paradinha funérea acrescentada por Toni na versão nova e um replay de “Feel Your Hands”, que abriu o show.

SÁBADO - Eu já vi de tudo na vida noturna, mas o que aconteceu no que era para ter sido a terceira apresentação do Corsage em Porto Alegre, sábado (7), no Oh La La, no Bonfim, Porto Alegre, foi um absurdo. Duas bandas estavam programadas para tocar no lugar: o Corsage e o Reverso Revolver. No horário combinado, às 20h, o Corsage apareceu para passar o som. Não havia equipamento.

O P.A. (equipamento para a voz) estaria guardado numa sala fechada. O funcionário do bar trouxe a parte básica da bateria (bumbo, surdo, o chifre e um ton-ton), deixou no meio da sala onde seria o show, que não tinha luz e foi embora. O pessoal das bandas pediu e ele colocou uma luz no palco para que o equipamento fosse montado e acabou aí a participação da casa no show das duas bandas.

A casa não avisou o promotor do show, que não sabia o que se passava na casa, pois também não ligou para as bandas para saber o que acontecia. Resultado: 0h30, as duas bandas tentavam uma solução, pois faltava (se é que o P.A. existia, pois ninguém viu) um cubo de baixo e um ampli de guitarra. Resultado: o Corsage foi embora do Oh La La à 1h, deixando de cumprir um terço de sua missão em Porto Alegre.

Espero que, em São Paulo, quando o Corsage convidar alguma banda de Porto Alegre para tocar por lá, nada disso ocorra.

Estes foram os sets do Corsage ontem em POA:

Programa Radar: TVE

Sobrevivente
Destruidor de Corpos
My Shoes Hate Me
Feel Your Hands

Cultura Rock Club

Feel Your Hands
Destruidor de Corpos
Akire´s Dream
Head On
Another Hell
Walking Blind
Progesterone
Festa Punk
My Shoes Hate Me
Sobrevivente
A Clown on the Clouds
I Wanna Be Your Dog
Body´s Destroyer
Feel Your Hands (reprise)

domingo, 1 de março de 2009

O primeiro show de rock


Estou feliz. Ontem, cumpri uma autopromessa de quase cinco anos: levar minha filha a seu primeiro show de rock. Em 2004, quando ela tinha 3 anos, anotei num blog antigo que havia duas músicas que ela sempre me pedia: "O Sol que Me Ilumina", do bardo Wander Wildner, e "Dois a Rodar", do super grupo pop Ludov.

Eu e minha companheirona estávamos com muito calor e ela muito cansada de brincar numa festa de aniversário, mas rodamos uma hora de ônibus, da Pompéia ao Ipiranga, para vê-los tocar no Sesc.

Corremos e chegamos enquanto Vanessa cantava a primeira música sozinha ao violão, depois o grupo desfiou sua esteira de sucessos em formato semi-acústico (não foi 100% acústico, pois eles usaram baixo elétrico e escaleta em alguns arranjos), cantados em uníssono pelos fãs, que lotaram a área de convivência do Sesc.

Teve de tudo, canções do EP “Dois a Rodar” e dos dois álbuns: “O Exercício das Pequenas Coisas” e “Disco Paralelo”, além de duas ou três músicas que poderão entrar no próximo disco, que eles começam a gravar hoje. Boa sorte, queridos.

Minha filha querida mandou bem, arrumou um lugar entre duas senhoras que ocupavam um sofá, acompanhou com palmas, cantou as que conhecia, levantou para tirar fotos, como essa aí de cima, com meu celular tosquinho... Ela teve mais sorte que eu, o Ludov tocou a canção preferida dela: “Dois a Rodar”. Eu fiquei sem “Dorme em Paz” (como eu queria gritar aquele refrão!!!)... Voltamos felizes para casa, comentando o show no ônibus. Ela tem sete anos, quase oito. E eu tô muito feliz.

E para quem não conhece Ludov, reproduzo aqui um texto que escrevi num blog meu, que já morreu, sobre o glorioso disco “O Exercício das Pequenas Coisas”.

Friday, February 04, 2005
O DIA EM QUE O POP ROCK FOI FELIZ

Que delícia chegar em casa e encontrar o CD novo sobre a mesa. Que delícia saber que não errei na compra. Pois é. O EP "Dois a Rodar" pôs as cartas na mesa e deu todas as pistas. O álbum "O Exercício das Pequenas Coisas" apenas confirmou: o Ludov veio para ficar no cenário pop-rock nacional, mas não é só, pois já está fazendo história.
Este álbum de estréia (na verdade o terceiro do grupo, que havia gravado dois discos inteiros como Maybees) é o "Pet Sounds" atrasado do pop brasileiro. Essa banda de mão cheia, formada por Mauro Motoki (guitarra, teclados e outras coisas), Habacuque Lima (guitarra), Vanessa Krongold (voz), Edu Filomeno (baixo) e Paulo Chapolin (bateria), extrai de seu caldo de cultura formado por Beatles, Mutantes, Bossa Nova, Brit Pop Fofinho, Pato Fu, Los Hermanos, Beach Boys, Burt Bacharach, REM, Smashing Pumpkins (fase Mellon Collie), em uma combinação perfeita com a voz entre o raso e o profundo de Vanessa, que poderia ser definida como uma Fernanda Takai com a potência de Chrissie Hynde e Natalie Merchant, o pop rock mais perfeito já escrito no país.
Mérito de Motoki, Lima e Vanessa, os compositores do grupo, mas mérito também de um disco esmerado, incrivelmente bem produzido, sem preguiça de experimentar arranjos novos _arriscando mais no teclado, overdubando vozes, violões, acrescentando coros, novos instrumentos...

Apesar das diferentes fontes musicais e da mutante voz de Vanessa, o disco é coeso e flui sem grandes turbulências do princípio ao fim, entre baladas puras como a onírica "Sete Anos", com vocal de Motoki, ao momento 10,000 Maniacs de "Estrelas" e as simbioses agridoces e pesadas de "Kriptonita" (a faixa de trabalho) e "Dorme Em Paz" (para mim, candidata a hit).

Espaço não falta para a criatividade da banda, que dá um chega prá lá na inveja com a bela "Gramado" (Se o gramado ao lado todo esverdeado/ Parecer melhor que o seu/ Tome mais cuidado com esse mau olhado/Não venha cuspir no meu), sacode o esqueleto na instrumental 5upertrunfo (assim, com 5. Uma homenagem ao REM e seus 4´s nas letras???), faz um link com a Jovem Guarda na batida da guitarra em "Elastano" e dá um presentinho aos atrasadinhos com o hit "Princesa", que os levou a ganhar o VMB categoria "Revelação".