Todo mundo estava fazendo discos mega pretensiosos em 1973. O Pink Floyd lançava “Dark Side Of The Moon”, o Led Zeppelin, “Houses of The Holy” e por aí vai. Mas o camaleão tinha que pensar diferente e ele resolveu, em meio a evolução sem fim que o rock sofria nos anos 70, olhar para trás e gravar as canções que gostava quando era apenas um garoto querendo ser star.
Bowie foca seu olhar bicolor em três ondas distintas da produção musical de seus conterrâneos britânicos _o movimento mod (o disco tem duas covers do The Who e uma dos Kinks), de bandas com fortes influências do blues, como o Yardbirds, Them (de Van Morrison, Irlanda) e Easybets (Nova Zelândia), e a fase Barret do Floyd.
O camaleão não é nada bobo. Procura pinçar pérolas e músicas que pudessem ainda dizer algo seis, sete ou oito anos depois de terem sido escritas, homenageia com sinceridade grupos que não tiveram grande reconhecimento além das ilhas britânicas, pelo menos na época em que as músicas escolhidas foram lançadas. E foge do óbvio ao não gravar Beatles e Stones, nem músicas que foram grandes hits nos EUA, além de modificar, para melhor várias das músicas, caso de “Sorrow”, que ganhou um belo solo de sax.
A capa é linda. Bowie, com uma roupa de ser espacial posa andrógino ao lado de Twiggy, outro ícone dos sixties, como se dissesse: “eu sou o futuro, mas o futuro estava desenhado no passado”, sem contar que que ao gravar Pin Ups o gênio criava um veio para a indústria fonográfica: o dos discos tributos gravados por uma banda ou artista, como depois fizeram John Lennon em “Rock´n´Roll”, o Mettalica em “Garage Days” e muitos e muitos outros. O disco marca ainda o fim da fase de Bowie com os Spiders From Mars e o início da radicalização Glam presente em “Diamond Dogs”.
Mesmo não sendo uma obra autoral de Bowie, o disco representa muito pra mim. É mais um que comprei na Teia de Aranha, não lembro se dica do próprio Silvio ou do Marcelo, mas que abriu minha sensibilidade para The Who, Kinks, Van Morrison (Them), Easybeats e Yardbirds (Jeff Beck), artistas e bandas que eu fui atrás depois de ouvir Pin Ups através dos mesmos amigos e das próprias fuçadas em revistas, lojas e livros (afinal não tinha Internet nesse tempo).
O vinil, que tenho até hoje, rodava loucamente lá em casa. É um disco que pega fácil em seus quarenta minutos super eficientes com uma banda coesa (os já citados Spiders com Mick Ronson no auge e Bowie dando toques de sax em várias faixas). Era mais um álbum que me dava aquele tesão de ser star. Hoje está no MP3 e causa o mesmo efeito. Depois que escuto, tenho vontade de repetir e ouvir o resto... Por isso, faixas adiante no aparelhinho, tenho a versão do Easybeats para “Friday on My Mind”.
Ouça Pin Ups e procure também os originais. A viagem valerá a pena. Eis a lista das faixas e em quais versões Bowie baseou seus covers:
Rosalyn – The Pretty Things
Here Comes The Night - Them
I Wish You Would - Yardbirds
See Emily Play – Pink Floyd
Everything´s Allright – The Mojo´s
I Can´t Explain – The Who
Friday On My Mind – Easybeats
Sorrow – The Merseys
Don´t Bring Me Down – The Animals
Shapes of Things – Yardbirds
Anyway, Anyhow, Anywhere – The Who
Where Have All The Good Times Gone – The Kinks
Cotação: ****1/2
Other stuff: Vinil. Capa íntegra com informações escritas na caligrafia do próprio Bowie na contracapa. Encarte com foto e a letra de “Where Have All...” Original, lançado no Brasil em 1977.
Cotação:*****