domingo, 20 de maio de 2007

David Bowie, Pin Ups (1973)


Todo mundo estava fazendo discos mega pretensiosos em 1973. O Pink Floyd lançava “Dark Side Of The Moon”, o Led Zeppelin, “Houses of The Holy” e por aí vai. Mas o camaleão tinha que pensar diferente e ele resolveu, em meio a evolução sem fim que o rock sofria nos anos 70, olhar para trás e gravar as canções que gostava quando era apenas um garoto querendo ser star.


Bowie foca seu olhar bicolor em três ondas distintas da produção musical de seus conterrâneos britânicos _o movimento mod (o disco tem duas covers do The Who e uma dos Kinks), de bandas com fortes influências do blues, como o Yardbirds, Them (de Van Morrison, Irlanda) e Easybets (Nova Zelândia), e a fase Barret do Floyd.


O camaleão não é nada bobo. Procura pinçar pérolas e músicas que pudessem ainda dizer algo seis, sete ou oito anos depois de terem sido escritas, homenageia com sinceridade grupos que não tiveram grande reconhecimento além das ilhas britânicas, pelo menos na época em que as músicas escolhidas foram lançadas. E foge do óbvio ao não gravar Beatles e Stones, nem músicas que foram grandes hits nos EUA, além de modificar, para melhor várias das músicas, caso de “Sorrow”, que ganhou um belo solo de sax.


A capa é linda. Bowie, com uma roupa de ser espacial posa andrógino ao lado de Twiggy, outro ícone dos sixties, como se dissesse: “eu sou o futuro, mas o futuro estava desenhado no passado”, sem contar que que ao gravar Pin Ups o gênio criava um veio para a indústria fonográfica: o dos discos tributos gravados por uma banda ou artista, como depois fizeram John Lennon em “Rock´n´Roll”, o Mettalica em “Garage Days” e muitos e muitos outros. O disco marca ainda o fim da fase de Bowie com os Spiders From Mars e o início da radicalização Glam presente em “Diamond Dogs”.


Mesmo não sendo uma obra autoral de Bowie, o disco representa muito pra mim. É mais um que comprei na Teia de Aranha, não lembro se dica do próprio Silvio ou do Marcelo, mas que abriu minha sensibilidade para The Who, Kinks, Van Morrison (Them), Easybeats e Yardbirds (Jeff Beck), artistas e bandas que eu fui atrás depois de ouvir Pin Ups através dos mesmos amigos e das próprias fuçadas em revistas, lojas e livros (afinal não tinha Internet nesse tempo).


O vinil, que tenho até hoje, rodava loucamente lá em casa. É um disco que pega fácil em seus quarenta minutos super eficientes com uma banda coesa (os já citados Spiders com Mick Ronson no auge e Bowie dando toques de sax em várias faixas). Era mais um álbum que me dava aquele tesão de ser star. Hoje está no MP3 e causa o mesmo efeito. Depois que escuto, tenho vontade de repetir e ouvir o resto... Por isso, faixas adiante no aparelhinho, tenho a versão do Easybeats para “Friday on My Mind”.


Ouça Pin Ups e procure também os originais. A viagem valerá a pena. Eis a lista das faixas e em quais versões Bowie baseou seus covers:


Rosalyn – The Pretty Things

Here Comes The Night - Them

I Wish You Would - Yardbirds

See Emily Play – Pink Floyd

Everything´s Allright – The Mojo´s

I Can´t Explain – The Who

Friday On My Mind – Easybeats

Sorrow – The Merseys

Don´t Bring Me Down – The Animals

Shapes of Things – Yardbirds

Anyway, Anyhow, Anywhere – The Who

Where Have All The Good Times Gone – The Kinks


Cotação: ****1/2


Other stuff: Vinil. Capa íntegra com informações escritas na caligrafia do próprio Bowie na contracapa. Encarte com foto e a letra de “Where Have All...” Original, lançado no Brasil em 1977.


Cotação:*****


terça-feira, 1 de maio de 2007

Echo & The Bunnymen (1987)

“Oh how the times have changed us

Sure and now uncertain”

(All My Life)


Voz de Jim Morrison, boca de Mick Jagger, nascido em Liverpool, terra dos Beatles. Fisicamente, geograficamente e musicalmente Ian McCulloch encarnava um caldeirão de influências. No imaginário dos anos 80, não dá para excluir do chip de memória de cada pessoa que foi criança/adolescente naqueles tempos a “coletânea” de penteados presentes na capa desse disco.


Cabelos a parte, o Echo é uma banda fundamental para entender o que foram os anos 80 e este álbum homônimo de 1987, além de síntese da época (fotos em preto-e-branco de Anton Corbijn, que também fotografou o U2 e o Joy Division, só para ficar em dois ícones, arranjos com bastante teclados...) é, sem dúvida, o topo na carreira do grupo, apesar dos resmungos de McCulloch, que afirma não gostar do álbum.


Se você que está lendo esse texto agora tiver que escolher um disco do Echo, escolha este. Os motivos são vários. Além dos expostos acima, esse é último álbum com a formação completa da banda (o baterista Pete de Freitas morre em 1989 num acidente de moto), a voz e a inspiração de Ian nunca mais seriam as mesmas. Este é também o mais íntegro conjunto de canções da banda, não há margem para hesitação em nenhuma faixa e as letras são muito inspiradas.


O álbum começa com “The Game”, cujo videoclipe foi gravado no Brasil, no Rio, e gerou protestos de nacionalistas babacas por ter sido gravado em parte em botecos e porque Ian imitava o gesto de Didi quando ele se dava bem, que estava em moda na época (veja o clipe aqui). No mesmo lado, outro clássico do Echo, “Bedbugs and Ballyhoo”, que tem uma introdução de bateria fantástica e teclados de Manzarek e o refrão grudento “down on your knees again/saying please again, no, no, no...”. O lado A fecha com a belíssima balada “Bombers Bay”.


O lado B começa com um hino: “Lips Like Sugar”, cuja leitura da letra na Bizz Letras Traduzidas me fez querer conhecer Echo e também Velvet Underground, pois cita “I´ll Be Your Mirror”. A introdução é completamente inesquecível e quando essa música toca numa pista de dança é hora de se jogar. O disco fecha com “All My Life”, uma das baladas mais sinceras de todos os tempos.


Lembro bem quando comprei esse disco, na verdade uma fita K-7 original comprada na Opus do Shopping Balneário. As letras eu xeroquei do encarte do vinil de alguém. Este álbum, Joshua Tree, do U2, e a coletânea Songs To Learn and Sing, do Echo também, foram definitivamente meus discos de sing-a-long. Cantava as letras enquanto ouvia os discos e depois tentava traduzí-las. A maior parte do meu inglês eu aprendi com letras de música. Anos depois comprei toda a coleção de vinis do Echo e outros clássicos dos anos 80 com o meu primo Vandinho, que tinha virado crente.


Cotação: *****


Other stuff

Vinil, com encarte completo, contendo letras, ficha técnica e mais fotos de silhuetas bem ao estilo de Corbijn.

Cotação: *****