quarta-feira, 10 de junho de 2009

Novos horizontes, 26 anos depois



Enquanto muita gente se questiona se ainda é necessário possuir música em mídias tradicionais (CD, DVD, etc) eu constantemente me pergunto o que ainda me leva a comprar música em mídias tradicionais? E a minha resposta é: “carinho pelo artista” e “inovação”. Somente estes dois princípios me levam a torrar grana nesses auto-presentes luxuosos.

Perto do meu aniversário de 35 anos, minha namorada pediu que eu escolhesse um presente. Naquele momento, o coração falou mais alto e pedi o CD novo do U2... Afinal, com eles tenho 22 anos de relação e, mesmo não tendo gostado na hora do clipe, nem da música “Get On Your Boots”, exibido no Fantástico (olha só, clipes pela primeira vez no Fantástico, voltamos aos anos 80 ou a MTV que é completamente incompetente mesmo?), decidi dar uma chance aos meus queridos irlandeses que, naturalmente, começam a ficar com os narizes mais aduncos e os cabelos mais ralos.

O disco, evidentemente, se não muda a minha vida, também não compromete. É um disco muito bom, no qual o U2 segue a trajetória iniciada em 2000, com “All That You Can´t Leave Behind”: misturar novos rumos com elementos que remetam a passos anteriores da banda.

Se “All That You...” e “How To Dismantle An Atomic Bomb” remetiam ao começo da banda e à sua fase épica, “No Line...” flerta com o período eletrônico, entre “Achtung Baby” e “Pop”, incluindo o disco do Passengers_ o álbum, inclusive, usa vários samplers de obras de Brian Eno nos anos 80 e, em “Magnificent” usa na introdução um tecladinho que orgulharia o Kraftwerk.

Feito esse parenteses para resenhar o novo disco do U2, o que impressiona mesmo, de verdade, em “No Line”, para aqueles que adquirirem o álbum pela forma tradicional, lerem as letrinhas pequenas, irem no site da banda, esperar para c*, é o filme “Linear”, dirigido por Anton Corbijn. Velho parceiro do U2, o diretor de “Control” (a cinebiografia de Ian Curtis), nos entrega um “filme-mudo” maravilhoso e entrega também que “No Line” era um álbum conceitual.

Vendo o filme “Linear”, o fã descobre que o disco deveria ter saído em 2008, que tinha outra ordem de faixas (veja ao final do post o comparativo entre o set do cd e o de Linear), uma música que não entrou no CD, “Winter”, e descobre que o disco para o qual Corbijn fez o filme é completamente diferente do lançado em 2009. A ideia da banda era ter um produto para agregar valor ao CD, ideal para fãs que possuem aparelho MP4, o que lhes permitiria ouvir o disco vendo o filme.

Algumas experiências do gênero já foram feitas por outras bandas. No Brasil, o formato dual disc foi muito usado para agregar um filme com o CD (em geral, imagens de making off da gravação). O próprio U2, em “How To...”, lançou uma edição que continha um CD extra com alguns vídeos, mas este caso é diferente, pois um filme média-metragem foi feito para o disco e com uma história, interpretada por atores. E é sensacional, imagens fortíssimas. Belíssimo.

Em resumo, “Linear” é um road-movie em que um policial francês, de origem árabe, abandona Paris, pega sua moto e parte rumo ao Mediterrâneo, com destino ao Marrocos, onde vai buscar seu amor e suas origens. No caminho, muito U2.

Enquanto o U2 preparava “No Line...”, escondidinha a banda fez um lançamento importantíssimo, em 2008. 25 anos depois, lançou em DVD o filme “U2 Live At Red Rocks – Under a Blood Red Sky”, de 1983, com cinco faixas a mais que o VHS original, exibido pela MTV americana na época. O DVD traz praticamente na íntegra a impressionante apresentação da banda, durante a turnê mundial de “War”, no anfiteatro Red Rocks, nas cercanias de Dever, Colorado, Só faltou “I Fall Down”, porque uma das câmeras sofreu uma pane durante a gravação, o que impediu a utilização da faixa.

O DVD, para quem conhece U2 de longa data, é emocionante. Eu, por exemplo, nunca tinha visto o U2 tocar “Two Hearts Beat As One”, “Seconds”, “I Threw a Brick Through A Window”, “A Day Without Me”, essas duas últimas estupendas, ao vivo.

Ver U2 “Live At Red Rocks” é como testemunhar a transposição do U2 de banda regional para banda mundial, como eles mesmos profetizaram no verso “In the shadow, boy meets man”, de Twilight, do álbum “Boy”, que não é sobre pedofilia, mas sobre amadurecimento_ aquele momento em que, do nada, a vida torna um garoto um homem.

Mas o que “Red Rocks” tem a ver com “Linear” ou “No Line...”? Tudo e Nada, eu diria. “Red Rocks” foi o fim da fase pós-punk do U2, entre “Boy” e “War” e o início da fase épica, americana, aberta com “Unforgettable Fire” e encerrada com “Rattle and Hum”. O que se vê no vídeo é essa transição. Num palco e com uma produção grande para a fase que viviam no período, o U2 rompe com seus colegas de pós-punk, como Roberto Carlos fez com a jovem-guarda e diz: “quero ser grande”.

Querendo ou não (eis o link com “No Line”), o U2 abriu, pela primeira vez na carreira, uma senda que outros grupos seguiram. Enquanto a MTV ficava desfilando cabelos ainda cheios de gel, laquê e muita, muita tinta ruim, em clipezinhos de qualidade duvidosa, o U2 mostrou que o que diferencia homens de meninos é o que uma banda pode apresentar num palco... E isso ninguém mais ousou duvidar.

Curiosidade, apesar de sempre associado ao show em Red Rocks, devido ao vídeo, o EP “Under a Blood Red Sky”, lançado naquele ano só tem duas músicas gravadas no show de Denver: “Party Girl” e “Gloria”. A maior parte das músicas de “Under A Blood...” foi gravada no festival RockPalast, na Alemanha Ocidental, em agosto de 1985, cujo vídeo, da TV WDR, foi lançado recentemente no Brasil sob o “criativo” título de U2 Live. Tem na baciada da Americanas.

Por falar em baciada, o lançamento de “Live at Red Rocks” no Brasil é um escândalo, um caso de crime contra o consumidor. O DVD só está disponível na Saraiva e na Siciliano pelo mesmo preço: R$ 49,90. Não há sinal do produto na Americanas, nem na FNAC, nem em lojas tradicionais de CD e DVD. Acabei de ver no site da Amazon que o DVD custa US$ 11 nos EUA, o que daria menos de R$ 30, com imposto de importação de 50%, caso o produto caísse no sinal vermelho da Receita, você pagaria mais R$ 15... Tá quase compensando importar....

Comparativo do set de “Linear” (esquerda) e “No Line”.

01. UNKNOWN CALLER ..............NO LINE ON THE HORIZON
02. BREATHE .....................MAGNIFICENT
03. WINTER ......................MOMENT OF SURRENDER
04. WHITE AS SNOW................UNKNOWN CALLER
05. NO LINE ON THE HORIZON.......I´LL GO CRAZY IF I DON´T GO CRAZY TONIGHT
06. FEZ-Being Born...............GET ON YOUR BOOTS
07. MAGNIFICENT..................STAND UP COMEDY
08. STAND UP COMEDY..............FEZ-Being Born
09. GET ON YOUR BOOTS............WHITE AS SNOW
10. MOMENT OF SURRENDER......... BREATHE
11. CEDARS OF LEBANON............CEDARS OF LEBANON

3 comentários:

Rosa Clara disse...

Eu não queria perguntar, mas também não queria errar. Queria que você gostasse, ficasse feliz e pelo visto... =)
Meus esforços estão empregados do desejo de te fazer feliz em todos os sentidos.
Prometo que vou tentar não perguntar no próximo aniversário tá?
Prometo te fazer muito feliz até lá.
Prometo comemorar abraçada com vc e complementando o presente com muitos abraços e beijos!

Te amo, a namorada.

Rosa Clara disse...

Amor, relendo seu texto observei uma coisa legal.
Você tem mais anos de relação com o U2 do que eu tenho de vida =)

..
*

MO disse...

É amor, comecei a gostar deles, pra valer, em 1987. Beijo!