domingo, 6 de maio de 2012

Virada Cultural 2012 "ou então misture tudo dentro de nós"...

E o amor predominou na minha edição da Virada Cultural 2012. Nada de amor carnal, pois rodei solito convicto pelas ruas de Piratininga, lonesome blues, um steppenwolf largado pela São Paulo do coração, mas o amor foi o tema central da dos melhores shows que vi.

Tudo começou sábado ao som do "brega" Dalto, aquele de "Muito Estranho", história do cara que chegou em casa "muito louco", disse que queria amar e amar a amada muitos anos e que após se declarar, determinou: "e então misture tudo dentro de nós". E terminou com o dedilhado de "Drão", aquela d´"O verdadeiro amor é vão", que "estende-se infinito/
Imenso monolito", de um estupendo Gilberto Gil na praça Júlio Prestes, mas com o som muito, mas muito fraco por incompetência da organização do festival, que não atinou que ele seria, obviamente, a grande atração do final do evento.

Entre Dalto e Gil, dois pontos altos absolutamente distintos: Charles Bradley e Cachorro Grande. A banda gaúcha fez mais um show muito bom, com algumas novidades bacanas: Beto Bruno está cantando melhor e tocando um pouco de guitarra (bem!) e todos os demais integrantes, exceto o Adriano, cantam uma música e banda está com uma super pegada. Até um trechinho de "Miss You" rolou. Gross é tão "guitar hero" que nem paga pau ao tocar um riff de Led Zeppelin. A única mancada é fechar o show com "My Generation", do Who, sendo que a banda tinha acabado de tocar sua obra-prima: "Lunático". Desnecessário, o Cachorro Grande não precisa fechar um show com uma cover. É uma grande banda e tem excelente repertório. Não tem nada que provar.

Mas o melhor momento de todo o festival veio de Gaynesvile, Florida. Um senhor de quase 60 anos, mas alma de 20 e poucos: Charles Bradley. Desde a primeira vez que ouvi esse cara foi amor a primeira vista. Baixei "No Time For Dreaming", seu álbum de estreia, e nunca mais tirei o disco do meu celular. Ouço sempre.

Bradley mudou-se jovem da Florida para Nova York. Passou poucas e boas e começou a ganhar unzinho imitando James Brown. Até que um dia o pessoal da Daptone Records viu seu show e o convidou para ser profissional. E que profissional!

Do imitador de James Brown só ficou o grito primal e o rebolado. A música de Bradley e da Menahan Street Band, que o acompanha, apesar de ser um soul absolutamente autêntico e quase vintage, nada tem de reverência oca. Vem realmente da alma e Bradley sabe como conquistar o público. Durante o show me comovi com uma menina que, aos prantos, tentava se aproximar mais do palco e da música que vem das entranhas do mestre.

O repertório é calcado em "No Time For Dreaming". Para complementar uns sketches instrumentais do sexteto da Menahan, em formação com órgão, trumpete, sax, guitarra, baixo e bateria e a cover swingadíssima de "Heart of Gold", de Neil Young. Digna de nota a semelhança do tecladista Mike com o ator Zach Galifianakis, de "Se Beber Não Case".

Estes foram os shows que vi na íntegra. Também passei, no sábado, por Guilherme Arantes, que estava mais 80 que 70, pelo Byafra (nada a declarar) e pela Destroyer Kiss Cover, que pareceu bem legal, mas o som e o calor no Shopping Light me impediram de ter certeza absoluta.

No domingo, vi quase todo o show d´os Filhos da Judith. A banda, que conhecia acompanhando o Erasmo Carlos, é muito boa tecnicamente, mas, na minha modesta opinião, para o som que se propõem, precisariam de um segundo guitarrista e, talvez, de um piano/órgão. A pegada é muito boa, mas eles ainda tem que botar covers no show como "fillers". Um pouco mais de arroz e feijão e eles estarão no ponto.

Ainda no domingo, esperando Bradley, passei pelo palco da Elis e vi uma moça esforçada, chamada Larissa Cavalcanti, na infeliz (por ser muito foda!) tarefa de cantar Elis. Ela até que foi bem, mas mais do mesmo da MPB datada, cronometrada e empacotada pra gringo ver. E na saída do Bradley ainda passei pelas Mercenárias, arrebentando em "Me Perco Nesse Tempo", numa grande apresentação da guitarrista Geórgia, de quem sou grande fã.

EM TEMPO: Menos rock e mais mistura na programação de 2013! E que tal manter a concentração de palcos no centro, mas abrir o festival também para outras regiões da cidade próximas ao centro, pelo menos, como o Bixiga, Liberdade, Barra Funda e Lapa. Outra coisa: quando termina um show num palco, em outro palco vizinho ele deve estar no começo. Era comum sair de um show e não ter ninguém tocando em outro palco perto. Música é pra juntar e não pra separar.

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