E o amor predominou na minha edição da Virada Cultural 2012. Nada de amor carnal, pois rodei solito convicto pelas ruas de Piratininga, lonesome blues, um steppenwolf largado pela São Paulo do coração, mas o amor foi o tema central da dos melhores shows que vi.
Tudo começou sábado ao som do "brega" Dalto, aquele de "Muito Estranho", história do cara que chegou em casa "muito louco", disse que queria amar e amar a amada muitos anos e que após se declarar, determinou: "e então misture tudo dentro de nós". E terminou com o dedilhado de "Drão", aquela d´"O verdadeiro amor é vão", que "estende-se infinito/
Imenso monolito", de um estupendo Gilberto Gil na praça Júlio Prestes, mas com o som muito, mas muito fraco por incompetência da organização do festival, que não atinou que ele seria, obviamente, a grande atração do final do evento.
Entre Dalto e Gil, dois pontos altos absolutamente distintos: Charles Bradley e Cachorro Grande. A banda gaúcha fez mais um show muito bom, com algumas novidades bacanas: Beto Bruno está cantando melhor e tocando um pouco de guitarra (bem!) e todos os demais integrantes, exceto o Adriano, cantam uma música e banda está com uma super pegada. Até um trechinho de "Miss You" rolou. Gross é tão "guitar hero" que nem paga pau ao tocar um riff de Led Zeppelin. A única mancada é fechar o show com "My Generation", do Who, sendo que a banda tinha acabado de tocar sua obra-prima: "Lunático". Desnecessário, o Cachorro Grande não precisa fechar um show com uma cover. É uma grande banda e tem excelente repertório. Não tem nada que provar.
Mas o melhor momento de todo o festival veio de Gaynesvile, Florida. Um senhor de quase 60 anos, mas alma de 20 e poucos: Charles Bradley. Desde a primeira vez que ouvi esse cara foi amor a primeira vista. Baixei "No Time For Dreaming", seu álbum de estreia, e nunca mais tirei o disco do meu celular. Ouço sempre.
Bradley mudou-se jovem da Florida para Nova York. Passou poucas e boas e começou a ganhar unzinho imitando James Brown. Até que um dia o pessoal da Daptone Records viu seu show e o convidou para ser profissional. E que profissional!
Do imitador de James Brown só ficou o grito primal e o rebolado. A música de Bradley e da Menahan Street Band, que o acompanha, apesar de ser um soul absolutamente autêntico e quase vintage, nada tem de reverência oca. Vem realmente da alma e Bradley sabe como conquistar o público. Durante o show me comovi com uma menina que, aos prantos, tentava se aproximar mais do palco e da música que vem das entranhas do mestre.
O repertório é calcado em "No Time For Dreaming". Para complementar uns sketches instrumentais do sexteto da Menahan, em formação com órgão, trumpete, sax, guitarra, baixo e bateria e a cover swingadíssima de "Heart of Gold", de Neil Young. Digna de nota a semelhança do tecladista Mike com o ator Zach Galifianakis, de "Se Beber Não Case".
Estes foram os shows que vi na íntegra. Também passei, no sábado, por Guilherme Arantes, que estava mais 80 que 70, pelo Byafra (nada a declarar) e pela Destroyer Kiss Cover, que pareceu bem legal, mas o som e o calor no Shopping Light me impediram de ter certeza absoluta.
No domingo, vi quase todo o show d´os Filhos da Judith. A banda, que conhecia acompanhando o Erasmo Carlos, é muito boa tecnicamente, mas, na minha modesta opinião, para o som que se propõem, precisariam de um segundo guitarrista e, talvez, de um piano/órgão. A pegada é muito boa, mas eles ainda tem que botar covers no show como "fillers". Um pouco mais de arroz e feijão e eles estarão no ponto.
Ainda no domingo, esperando Bradley, passei pelo palco da Elis e vi uma moça esforçada, chamada Larissa Cavalcanti, na infeliz (por ser muito foda!) tarefa de cantar Elis. Ela até que foi bem, mas mais do mesmo da MPB datada, cronometrada e empacotada pra gringo ver. E na saída do Bradley ainda passei pelas Mercenárias, arrebentando em "Me Perco Nesse Tempo", numa grande apresentação da guitarrista Geórgia, de quem sou grande fã.
EM TEMPO: Menos rock e mais mistura na programação de 2013! E que tal manter a concentração de palcos no centro, mas abrir o festival também para outras regiões da cidade próximas ao centro, pelo menos, como o Bixiga, Liberdade, Barra Funda e Lapa. Outra coisa: quando termina um show num palco, em outro palco vizinho ele deve estar no começo. Era comum sair de um show e não ter ninguém tocando em outro palco perto. Música é pra juntar e não pra separar.
domingo, 6 de maio de 2012
segunda-feira, 2 de abril de 2012
A busca por Verdade e Justiça é tão perene quanto The Wall
Roger Waters nasceu em setembro de 1943. Seu pai, um oficial das Forças Armadas Britânicas, morreu na batalha de Anzio, na Itália, quando Waters tinha 5 meses. Sua família, guiada por uma mãe excessivamente protetora, se mudou para Cambridge, onde o menino conheceu Syd Barret na escola. O amor pelo blues levou ambos a montarem uma banda com os amigos Richard Wright e Nick Mason. Em 1966, a banda passou a fazer longos improvisos, baseados em blues e jazz, iluminados pelas projeções de um professor-pardal. Aos poucos, o burburinho levou o Pink Floyd a assinar seu primeiro contrato. O sucesso inicial dos primeiros compactos levaram ao aclamado “The Piper At The Gates of Dawn”. Lançado em 1967, mesmo ano de “Sgt Pepper´s”, dos Beatles, foi muito mais um sucesso de crítica que de público. Barret, cada vez mais perturbado pelo uso de drogas, teve, provavelmente, agravados problemas mentais pré-existentes e sucumbiu à doença mental, o que o levou a ser expulso da banda pelos melhores amigos e ao posterior ostracismo. Nesse meio tempo, Waters casou-se com a namorada da faculdade, uma mulher mais velha e dominadora (a substituta perfeita de sua mãe) de quem separou-se no auge da fama.
Bem, não é tão comum, mas muita gente pode ter ficado órfão de pai ou mãe, ter perdido o melhor amigo nos melhores anos da vida e ter tido um companheiro(a) castrador. Uma ou duas coisas ao mesmo tempo, talvez mais, talvez menos. Poucos, entretanto, com tanta simplicidade, podem transformar sua vida em uma obra universal. Este é o maior legado de Roger Waters. E se “The Dark Side Of The Moon”, obra coletiva, é o ápice do Pink Floyd enquanto grupo, “The Wall” é o ápice da obra de Roger Waters enquanto músico e ser humano.
E não foi menos que o máximo que as cerca de 60/70 mil pessoas que lotaram o Morumbi receberam ontem na primeira parada da turnê The Wall em São Paulo.
The Wall deixou de ser a história de Waters e tornou-se um hino do ser humano contra o abuso de autoridade, a maldade, a agressão gratuita, o abuso moral, a violência, as formas de dominação pelo ódio, a idiotia coletiva causada seja por ditadores quanto cretinos sem talento que aspiram à fama, fatores que nos levam, muitas vezes subconscientemente, a erguer muros altíssimos e intransponíveis em torno de nós a título de proteção, que nos impedem de viver plenamente nossas vidas e a realizar plenamente nossos desejos. Enfim, The Wall é a história de todos nós. E o menino tímido de Cambridge que era humilhado por colegas e professores na escola, pode enfim dar o troco: criou uma obra universal majestosa.
Não tenho dúvida em dizer, mesmo sendo fã de Beatles, The Who e U2, que The Wall é o maior álbum conceitual já gravado na história. Essa afirmação agora é categórica, depois de vê-lo na forma em que foi concebido: o grande espetáculo de som e imagem que é _a ópera rock com começo, meio e fim. Em 2079, quando completar 100 anos, The Wall certamente continuará sendo encenado. Talvez, as pessoas não saberão mais quem foi o Pink Floyd, ou sequer entenderão que para se fazer música era preciso que pelo menos uns três rapazes se juntassem para fazer um som, mas elas entenderão a obra sobre o isolamento a que muitos de nós estamos condenados.
Em sua versão 2010-2012, The Wall, o meio, ganha uma série de novas mensagens, todas universais. Estão no show a crítica à guerra, mas também ao consumismo desenfreado e ao desejo de ter, muito mais forte que o desejo de ser, que anula as pessoas enquanto indivíduos. A 2ª Guerra Mundial está longe para uma parcela do público de hoje, mas quem não se emocionou, ainda que com imagens manjadas, ao ver as crianças de uma escola pública americana recebendo os pais de volta do front em “Vera/Bring The Boys Bakc Home”? Outros temas, como o fim do amor, o abandono e a solidão, e o apelo por contato, também estão presentes, especialmente em “Hey You” e “Nobody Home”.
Trazido de volta de seu torpor depressivo-drogado, o astro Floyd é reerguido com uma agulhadinha básica em “Comfortably Numb” e, agora sem dor, se recompõe na forma do ditador e sua perturbada relação com a plateia no bis de “In The Flesh”, culminada na opressão que se segue à riff-raff que “ousou” ir ao estádio, presentes no riff genial de David Gilmour, co-autor da perturbadora “Run Like Hell”.
Julgado por seus crimes de não-relacionamento e “por ter mostrado sentimentos de quase-natureza-humana”, humilhado novamente pelo professor, pela mãe e pela ex-mulher num julgamento soturno por um juiz obtuso e de veredicto já pronto, Floyd, apesar disso, é sensatamente condenado, em “The Trial” a derrubar o muro e a viver em sociedade.
Portanto, o show não teve nada de piegas em seu ponto mais emocionante, o de ter sido dedicado por Roger Waters ao brasileiro Jean Charles de Menezes (morto em 2005 pela polícia britânica, numa lance horroroso de incompetência e brutalidade, confundido pela polícia com um terrorista) e à luta de sua família por Verdade e Justiça.
Jean foi vítima de terrorismo de Estado, aquele que assume o ódio e medo coletivos infligidos pelo Terror, ou criado nos gabinetes dos governantes, para reprimir a massa e mantê-la no cabresto. A morte de Jean expôs terrivelmente os métodos de segurança internos britânicos, os mesmos que foram incompetentes para impedir com inteligência os protestos dos estudantes e contra a violência policial de 2010-2011, combinados pelo BBM (os sistema de mensagens fechado da rede BlackBerry), ou para desativar a rede de escutas ilegais, com a conivência da polícia, para gerar manchetes para o jornalzinho popularesco do multimilionário Rupert Murdoch.
Não esquecer, para poder lembrar e para que não se repita, torna-se então o novo lema de The Wall. No intervalo do show, vítimas de conflitos e injustiças pelo mundo são lembradas com suas fotos no muro. Em “Waiting For The Worms”, os jornalistas “confundidos” com insurgentes, mortos no Iraque, também são lembrados.
Curiosamente, o show de Waters aconteceu em São Paulo no dia 1º de abril, 48 anos depois do golpe militar que mudou para sempre a face do Brasil. No auge dessa ditadura, um cidadão hispano-venezuelano, Miguel Sabat Nuet, viajava pela América Latina em busca de familiares distantes que poderiam ajudá-lo a receber uma herança complicada. Triste pela perda da mulher e longe dos filhos, anotava textos meio filosóficos num caderninho e portava uma valise. Na estação Barra Funda, ele se confundiu de trem e desceu com a condução em movimento. Foi preso e nunca mais visto. "Suicidado" nos portões da Ditadura, foi enterrado no cemitério de Vila Formosa. Sua família jamais foi informada. Familiares de presos políticos contaram a história de Nuet ao Ministério Público Federal. Seus restos mortais, exumados, a pedido do MPF, foram identificados em 2008, e após três anos de burocracia no governo federal, foram enfim entregues à sua família ano passado com um pedido de desculpas em nome de nosso país. Detalhe: Nuet foi morto em 1973.
Assim como as cinzas de Nuet levaram 28 anos para serem entregues à família, há ainda milhares de outras histórias que requerem esclarecimentos. Derrubar o muro da vergonha que esconde essas informações e que protege os carniceiros que a mando de um regime mataram, torturaram, oprimiram e censuraram músicas e filmes (!) é essencial para que o Brasil saiba que país é. Mais uma vez a mensagem da música une e traz a inquietação necessária, unindo a busca por Verdade e Justiça à eternidade de The Wall.
P.S.: A pedido, mas com minha inteira concordância, este post faz parte da quinta blogagem coletiva #desarquivandoBR, que se realiza de 28/3 a 02/4
Bem, não é tão comum, mas muita gente pode ter ficado órfão de pai ou mãe, ter perdido o melhor amigo nos melhores anos da vida e ter tido um companheiro(a) castrador. Uma ou duas coisas ao mesmo tempo, talvez mais, talvez menos. Poucos, entretanto, com tanta simplicidade, podem transformar sua vida em uma obra universal. Este é o maior legado de Roger Waters. E se “The Dark Side Of The Moon”, obra coletiva, é o ápice do Pink Floyd enquanto grupo, “The Wall” é o ápice da obra de Roger Waters enquanto músico e ser humano.
E não foi menos que o máximo que as cerca de 60/70 mil pessoas que lotaram o Morumbi receberam ontem na primeira parada da turnê The Wall em São Paulo.
The Wall deixou de ser a história de Waters e tornou-se um hino do ser humano contra o abuso de autoridade, a maldade, a agressão gratuita, o abuso moral, a violência, as formas de dominação pelo ódio, a idiotia coletiva causada seja por ditadores quanto cretinos sem talento que aspiram à fama, fatores que nos levam, muitas vezes subconscientemente, a erguer muros altíssimos e intransponíveis em torno de nós a título de proteção, que nos impedem de viver plenamente nossas vidas e a realizar plenamente nossos desejos. Enfim, The Wall é a história de todos nós. E o menino tímido de Cambridge que era humilhado por colegas e professores na escola, pode enfim dar o troco: criou uma obra universal majestosa.
Não tenho dúvida em dizer, mesmo sendo fã de Beatles, The Who e U2, que The Wall é o maior álbum conceitual já gravado na história. Essa afirmação agora é categórica, depois de vê-lo na forma em que foi concebido: o grande espetáculo de som e imagem que é _a ópera rock com começo, meio e fim. Em 2079, quando completar 100 anos, The Wall certamente continuará sendo encenado. Talvez, as pessoas não saberão mais quem foi o Pink Floyd, ou sequer entenderão que para se fazer música era preciso que pelo menos uns três rapazes se juntassem para fazer um som, mas elas entenderão a obra sobre o isolamento a que muitos de nós estamos condenados.
Em sua versão 2010-2012, The Wall, o meio, ganha uma série de novas mensagens, todas universais. Estão no show a crítica à guerra, mas também ao consumismo desenfreado e ao desejo de ter, muito mais forte que o desejo de ser, que anula as pessoas enquanto indivíduos. A 2ª Guerra Mundial está longe para uma parcela do público de hoje, mas quem não se emocionou, ainda que com imagens manjadas, ao ver as crianças de uma escola pública americana recebendo os pais de volta do front em “Vera/Bring The Boys Bakc Home”? Outros temas, como o fim do amor, o abandono e a solidão, e o apelo por contato, também estão presentes, especialmente em “Hey You” e “Nobody Home”.
Trazido de volta de seu torpor depressivo-drogado, o astro Floyd é reerguido com uma agulhadinha básica em “Comfortably Numb” e, agora sem dor, se recompõe na forma do ditador e sua perturbada relação com a plateia no bis de “In The Flesh”, culminada na opressão que se segue à riff-raff que “ousou” ir ao estádio, presentes no riff genial de David Gilmour, co-autor da perturbadora “Run Like Hell”.
Julgado por seus crimes de não-relacionamento e “por ter mostrado sentimentos de quase-natureza-humana”, humilhado novamente pelo professor, pela mãe e pela ex-mulher num julgamento soturno por um juiz obtuso e de veredicto já pronto, Floyd, apesar disso, é sensatamente condenado, em “The Trial” a derrubar o muro e a viver em sociedade.
Portanto, o show não teve nada de piegas em seu ponto mais emocionante, o de ter sido dedicado por Roger Waters ao brasileiro Jean Charles de Menezes (morto em 2005 pela polícia britânica, numa lance horroroso de incompetência e brutalidade, confundido pela polícia com um terrorista) e à luta de sua família por Verdade e Justiça.
Jean foi vítima de terrorismo de Estado, aquele que assume o ódio e medo coletivos infligidos pelo Terror, ou criado nos gabinetes dos governantes, para reprimir a massa e mantê-la no cabresto. A morte de Jean expôs terrivelmente os métodos de segurança internos britânicos, os mesmos que foram incompetentes para impedir com inteligência os protestos dos estudantes e contra a violência policial de 2010-2011, combinados pelo BBM (os sistema de mensagens fechado da rede BlackBerry), ou para desativar a rede de escutas ilegais, com a conivência da polícia, para gerar manchetes para o jornalzinho popularesco do multimilionário Rupert Murdoch.
Não esquecer, para poder lembrar e para que não se repita, torna-se então o novo lema de The Wall. No intervalo do show, vítimas de conflitos e injustiças pelo mundo são lembradas com suas fotos no muro. Em “Waiting For The Worms”, os jornalistas “confundidos” com insurgentes, mortos no Iraque, também são lembrados.
Curiosamente, o show de Waters aconteceu em São Paulo no dia 1º de abril, 48 anos depois do golpe militar que mudou para sempre a face do Brasil. No auge dessa ditadura, um cidadão hispano-venezuelano, Miguel Sabat Nuet, viajava pela América Latina em busca de familiares distantes que poderiam ajudá-lo a receber uma herança complicada. Triste pela perda da mulher e longe dos filhos, anotava textos meio filosóficos num caderninho e portava uma valise. Na estação Barra Funda, ele se confundiu de trem e desceu com a condução em movimento. Foi preso e nunca mais visto. "Suicidado" nos portões da Ditadura, foi enterrado no cemitério de Vila Formosa. Sua família jamais foi informada. Familiares de presos políticos contaram a história de Nuet ao Ministério Público Federal. Seus restos mortais, exumados, a pedido do MPF, foram identificados em 2008, e após três anos de burocracia no governo federal, foram enfim entregues à sua família ano passado com um pedido de desculpas em nome de nosso país. Detalhe: Nuet foi morto em 1973.
Assim como as cinzas de Nuet levaram 28 anos para serem entregues à família, há ainda milhares de outras histórias que requerem esclarecimentos. Derrubar o muro da vergonha que esconde essas informações e que protege os carniceiros que a mando de um regime mataram, torturaram, oprimiram e censuraram músicas e filmes (!) é essencial para que o Brasil saiba que país é. Mais uma vez a mensagem da música une e traz a inquietação necessária, unindo a busca por Verdade e Justiça à eternidade de The Wall.
P.S.: A pedido, mas com minha inteira concordância, este post faz parte da quinta blogagem coletiva #desarquivandoBR, que se realiza de 28/3 a 02/4
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sábado, 14 de maio de 2011
Entre os 20 e os 70 uma coisa em comum: rock´n´roll
Dia 13 completei 37 anos. Desde os 13 anos eu ouço rock, basicamente. Na noite do dia 12, para comemorar, fui com meu amor assistir o segundo show em menos de dois meses de uma das maiores lendas do gênero no Brasil: “o meu amigo Erasmo Carlos”. E o show dele não pode ser descrito como menos que sensacional.
Ontem, fui dar uma volta pelo bairro e passei por um barzinho rock´n´roll ao lado de casa. Três meninas (guitarra, baixo e bateria) tocavam “Act Naturally”, um número de country-western que foi gravado pelos Beatles em “Help!” e que fazia parte do repertório dos rapazes de Liverpool desde a época dos shows em Hamburgo.
Na volta desse rolê não resisti e parei pela primeira vez no “The Red One”, o tal boteco rock´n´roll, ao lado de casa, na rua Machado de Assis. Tinha que atender o chamado.
Dos 16 aos 22 toquei rock´n´roll em duas bandas diferentes e uma coisa que sempre esteve no repertório era rockabilly e rock, covers de Beatles, Ramones, enfim, rock hormonal puro. É um tipo de som que sempre me agradou.
Tomei uma cervejinha e iniciei meu testemunho. As meninas pegaram suas guitarra, baixo e bateria e começaram a tocar músicas dos anos 50 e 60, rockabillies de Eddie Cochran, Chuck Berry, Little Richard, Carl Perkins. O mais interessante é que os arranjos se calcam nas versões que os Beatles e outros grupos de Mersey Beat deram a estes sons, semelhantes a forma como os Beatles tocavam no Cavern Club e em Hamburgo, conforme gravações presentes no Live at BBC e no primeiro volume do Anthology. O resultado é sensacional.
Pedi e fui atendido: ao final, elas tocaram “Sweet Little Sixteen”, do Chuck Berry, que eu toquei muito com o amigo Tide, com direito a “duck walk” da Marina, vocalista e guitarrista da banda cujo nome eu finalmente descobri: The Mersey Beggars ( www.myspace.com/themerseybeggars ). No próximo dia 27 de maio, sexta-feira, elas tocarão no The Red One novamente. Estarei lá. É imperdível.
E o que isso tem a ver com Erasmo? Há 50 anos atrás um galalau da Tijuca conheceu um garoto do Espírito Santo que se chamava Roberto, que tocava com um gordinho chamado Sebastião. Todos conheciam também o Jorge, que tinha uma batida diferente. E eles mudaram a música brasileira.
Na noite anterior, como dizia, Erasmo, quase 70 anos, estava cercado de três garotos também: o baixista, um dos guitarristas e o baterista de sua banda, são garotos que recém atingiram a maioridade, como as The Mersey Beggars, mas com instrumentos, amplis e roupas vintage, um deles inclusive tem uma Gianinni dos anos 60/70, imitando uma Rickenbaker.
Os meninos se chamam os Filhos da Judith ( http://www.myspace.com/filhosdajudith ) e são demais também e contribuem para o Erasmo manter a chama do rock´n´roll acesa. Como um garoto de vinte e poucos, ele leva a plateia de coroas e jovens ao delírio. O ponto de contato entre todos eles é único: o rock´n´roll. E, ao que parece, ao contrário de todos os prognósticos, nunca pode morrer, como canta Neil Young.
Ontem, fui dar uma volta pelo bairro e passei por um barzinho rock´n´roll ao lado de casa. Três meninas (guitarra, baixo e bateria) tocavam “Act Naturally”, um número de country-western que foi gravado pelos Beatles em “Help!” e que fazia parte do repertório dos rapazes de Liverpool desde a época dos shows em Hamburgo.
Na volta desse rolê não resisti e parei pela primeira vez no “The Red One”, o tal boteco rock´n´roll, ao lado de casa, na rua Machado de Assis. Tinha que atender o chamado.
Dos 16 aos 22 toquei rock´n´roll em duas bandas diferentes e uma coisa que sempre esteve no repertório era rockabilly e rock, covers de Beatles, Ramones, enfim, rock hormonal puro. É um tipo de som que sempre me agradou.
Tomei uma cervejinha e iniciei meu testemunho. As meninas pegaram suas guitarra, baixo e bateria e começaram a tocar músicas dos anos 50 e 60, rockabillies de Eddie Cochran, Chuck Berry, Little Richard, Carl Perkins. O mais interessante é que os arranjos se calcam nas versões que os Beatles e outros grupos de Mersey Beat deram a estes sons, semelhantes a forma como os Beatles tocavam no Cavern Club e em Hamburgo, conforme gravações presentes no Live at BBC e no primeiro volume do Anthology. O resultado é sensacional.
Pedi e fui atendido: ao final, elas tocaram “Sweet Little Sixteen”, do Chuck Berry, que eu toquei muito com o amigo Tide, com direito a “duck walk” da Marina, vocalista e guitarrista da banda cujo nome eu finalmente descobri: The Mersey Beggars ( www.myspace.com/themerseybeggars ). No próximo dia 27 de maio, sexta-feira, elas tocarão no The Red One novamente. Estarei lá. É imperdível.
E o que isso tem a ver com Erasmo? Há 50 anos atrás um galalau da Tijuca conheceu um garoto do Espírito Santo que se chamava Roberto, que tocava com um gordinho chamado Sebastião. Todos conheciam também o Jorge, que tinha uma batida diferente. E eles mudaram a música brasileira.
Na noite anterior, como dizia, Erasmo, quase 70 anos, estava cercado de três garotos também: o baixista, um dos guitarristas e o baterista de sua banda, são garotos que recém atingiram a maioridade, como as The Mersey Beggars, mas com instrumentos, amplis e roupas vintage, um deles inclusive tem uma Gianinni dos anos 60/70, imitando uma Rickenbaker.
Os meninos se chamam os Filhos da Judith ( http://www.myspace.com/filhosdajudith ) e são demais também e contribuem para o Erasmo manter a chama do rock´n´roll acesa. Como um garoto de vinte e poucos, ele leva a plateia de coroas e jovens ao delírio. O ponto de contato entre todos eles é único: o rock´n´roll. E, ao que parece, ao contrário de todos os prognósticos, nunca pode morrer, como canta Neil Young.
quinta-feira, 14 de abril de 2011
É hora de quê no mundo? É hora do show!
Durante todo o show da turnê 360º, pipocaram mensagens no telão de alta definição e o Bono perguntava: “É hora de quê no mundo?”. A pergunta fica latejando durante todo o espetáculo, relógios aparecem no telão multimídia, até que perto do fim do show, antes do êxtase de “With Or Without You”, o cantor do U2 responde: “É hora do show!”.
Nenhuma outra banda no mundo sabe mais que o U2 o momento que os habitantes deste planeta vivem atualmente. Na era da mídia, em que cada um pode, do seu celular, decidir sua vida, namorar, publicar notícias, denunciar atrocidades, se agrupar em torno de uma causa, enfim, protagonizar, decidir, mandar. É hora de aparecer, é hora do show. E, num show do U2, todos fazemos parte, todos pertencemos, somos partes integrantes do espetáculo.
Nada mais apropriado então do que homenagear David Bowie e sua “Space Oddity”_ tema da BBC para a viagem do homem à lua, em 1969_ e Elton John e Bernie Taupin e seu “Rocket Man”, na abertura e no final do show. No final dos 60 e começo dos 70, após a auto-implosão do flower-power em Altamont, o mundo se enxergava na tecnologia e perguntava quantos homens do foguete iriam viver sua odisséia no espaço.
Na sua sandice, ou apenas sendo vítima de seu próprio destino, a humanidade tirou os olhos um pouco do espaço. Expedições tripuladas jamais foram além da Lua, mas a tecnologia nos trouxe a este mundo de hoje, que é extremamente dicotômico: Twitter e demais redes sociais podem servir tanto para as pessoas fazerem campanha em prol de seu big brother favorito como para organizar marchas e protestos pela liberdade no norte da África, no oriente médio e no Irã censurados. Ditadores cortaram os cabos de internet, mas os celulares 3G estavam lá e mandaram notícias para o resto do mundo sobre o que estava acontecendo.
Não é à toa que a Irlanda, afundada numa crise que só não é maior que o “great famine”, não é mais o cenário das imagens de fundo para “Sunday Bloody Sunday”. Saem os irlandeses, entram os árabes em busca da liberdade. O U2 sabe que “as garrafas quebradas sob os pés das crianças” estão lá, mas as pedras agora são outras: são a palavra, a imagem e o som transmitidos pela internet.
Nessa comunhão com seus fãs e o mundo, de pileque ou não, Bono, Edge, Adam e Larry não soaram nada anacrônicos em quase duas horas de show, ontem, no Morumbi. Seus mais de 30 anos de carreira não os tornaram dinossauros, porque eles souberam entender o mundo em que vivem e a plateia representava isso: crianças, adolescentes, jovens adultos e coroas, unidos, cantavam, cada um o seu hino.
Na volta pra casa, um rapaz de uns 25 anos delirava. Falava pelos cotovelos com seu grupo de amigos que “Walk On” havia sido o melhor momento do show (foi um dos melhores). No ônibus, um segurança que trabalhou no espetáculo, um senhor de uns 65 anos que se orgulhava de dizer aos turistas que havia visto gente nadar no Tietê em 1964, mostrava orgulhoso para uma fã mais nova o vídeo que havia feito de “Magnificent”.
E essa é a mágica que faz do U2 uma banda especial, que não à toa bateu o recorde dos Rolling Stones de turnê mais rentável. Eles são bem mais que uma banda hoje: são caras que estão nas casas de quase todo mundo, no mundo todo. Quem não tem uma coletânea, tem um DVD, ou CD baixado da internet, ou viu o clipe de “Vertigo” em algum lugar. Eles são mais que uma banda, são algo familiar, como um celular ou aquele porta-retrato na estante.
E o U2 sabe que todos somos protagonistas. Estimula que os fãs gravem os shows, tirem fotos. Disseram até que estavam gravando os shows e que colocariam as imagens para download no site da banda, mas que, quem baixasse não deveria contar nada ao manager do grupo. Enfim, U2 somos nós.
Quanto à música, mesmo como todo o palco, o telão incrível, que na hora em que se articula, formando uma espécie de globo da morte sobre a banda, lembra a capa do clássico álbum “Tommy”, do The Who (outra referência), ela ainda é o centro do show. E, no cenário futurista, e diante das condições vocálicas de Bono, uma ou outra música perde o sentido. No show que vi, pelo menos, foi o caso de “Pride (In The Name of Love)”: perdida num canto do repertório, sem sentido e sem pique.
Os melhores momentos, sem dúvida, ficaram por conta da produção da banda desde 89, a partir da virada representada por “Achtung Baby”. Abrir o show com “Even Better Than The Real Thing”, em novo arranjo, deu a senha. A bobinha “Get On Your Boots” ganha relevância com os graves extremamente bem equalizados saídos da “aranha”, “Magnificent” explode em cores nos arpejos brilhantes de Edge.
Em “Elevation”, a arquibancada do Morumbi vibrava muito com os pulos do público (eu que nunca havia estado na arquibancada do estádio, confesso que tremi, de medo). Depois de conversar com o público em “I Still Haven´t Found What I´m Looking For”, Bono e companhia batem o ponto em “Pride” e chamam Seu Jorge para uma deliciosa brincadeira com “The Model”, do Kraftwerk, que virou uma bossa de gringo com as ideias cheias de caipirinha, tão diferente que precisei de auxílio para reconhecê-la.
Mas os momentos mais fantásticos vieram depois com o trio formado por “Miss Sarajevo”, emocionante, a primeira que me arrepiou de verdade, com Bono arrancando um tenor não sei da onde, muito, mas muito melhor que a versão da turnê de 2006, uma versão integral e magistral de “Zooropa”, momento em que o telão se articula e vira o “globo da morte”, e “City of Bliding Lights”, que é uma música de show, impressionante.
Outra escorregada foi a horripilante versão de “I´ll Go Crazy If I Don´t Go Crazy Tonight”, um remix tosco do arranjo original com Larry se arriscando numa conga e dando um rolê pelo palco, absolutamente constrangedores (a volta e a conga). Mas, é aquilo, o U2 tem um grau de envolvimento com o público, e um timing de show tão absurdo, que sabem que o ridículo faz parte do espetáculo. Não tem medo dele. Isso aconteceu em “Lemon”, na PopMart, e com o “McPhisto” na turnê ZooTV.
Em “One” e “Where The Streets Have no Name”, os velhos fãs não tinham como não se emocionar. Velhos filmes caseiros mostravam a banda dando um rolê de Trabant em frente ao estádio olímpico de Berlim e no Parque Nacional de Joshua Tree, respectivamente, na época em que estavam na Alemanha e nos EUA, gravando os dois maiores álbums da banda: The Joshua Tree e Achtung Baby.
Para encerrar o show, Bono pede que o público guarde pensamentos para as vítimas do massacre de Realengo, em especial para os pais das crianças mortas. As luzes se apagam, a música, “Moment of Surrender”. Enfim, assim terminou a terceira passagem do U2 pelo Brasil. Depois, as luzes acenderam e tocou a fita de “Rocket Man”, mostrando imagens de astronautas no telão. O U2, sozinho, não pode salvar o mundo, mas é a única banda que tem o direito de achar que ainda pode. E as 90 mil pessoas que estavam ontem no estádio têm certeza disso.
Set List – U2 – 360º Tour – São Paulo – Estádio do Morumbi – 13.04.2011
Even Better Than The Real Thing
I Will Follow
Get on Your Boots
Magnificent
Misterious Ways
Elevation
Until the end of the World
I Still Haven´t Found What I´m Looking For
Pride (In The Name Of Love)
The Model (Kraftwerk cover) – U2 e Seu Jorge
Beautiful Day
Miss Sarajevo
Zooropa
City of Blinding Lights
Vertigo
I´ll Go Crazy If I Don´t Go Crazy Tonight
Sunday Bloody Sunday
Scarlet
Walk On
One
All I Want is You
Where the Streets Have No Name
Hold me, Thrill Me, Kiss Me, Kill Me
With or wout you
Moment of Surrender
Nenhuma outra banda no mundo sabe mais que o U2 o momento que os habitantes deste planeta vivem atualmente. Na era da mídia, em que cada um pode, do seu celular, decidir sua vida, namorar, publicar notícias, denunciar atrocidades, se agrupar em torno de uma causa, enfim, protagonizar, decidir, mandar. É hora de aparecer, é hora do show. E, num show do U2, todos fazemos parte, todos pertencemos, somos partes integrantes do espetáculo.
Nada mais apropriado então do que homenagear David Bowie e sua “Space Oddity”_ tema da BBC para a viagem do homem à lua, em 1969_ e Elton John e Bernie Taupin e seu “Rocket Man”, na abertura e no final do show. No final dos 60 e começo dos 70, após a auto-implosão do flower-power em Altamont, o mundo se enxergava na tecnologia e perguntava quantos homens do foguete iriam viver sua odisséia no espaço.
Na sua sandice, ou apenas sendo vítima de seu próprio destino, a humanidade tirou os olhos um pouco do espaço. Expedições tripuladas jamais foram além da Lua, mas a tecnologia nos trouxe a este mundo de hoje, que é extremamente dicotômico: Twitter e demais redes sociais podem servir tanto para as pessoas fazerem campanha em prol de seu big brother favorito como para organizar marchas e protestos pela liberdade no norte da África, no oriente médio e no Irã censurados. Ditadores cortaram os cabos de internet, mas os celulares 3G estavam lá e mandaram notícias para o resto do mundo sobre o que estava acontecendo.
Não é à toa que a Irlanda, afundada numa crise que só não é maior que o “great famine”, não é mais o cenário das imagens de fundo para “Sunday Bloody Sunday”. Saem os irlandeses, entram os árabes em busca da liberdade. O U2 sabe que “as garrafas quebradas sob os pés das crianças” estão lá, mas as pedras agora são outras: são a palavra, a imagem e o som transmitidos pela internet.
Nessa comunhão com seus fãs e o mundo, de pileque ou não, Bono, Edge, Adam e Larry não soaram nada anacrônicos em quase duas horas de show, ontem, no Morumbi. Seus mais de 30 anos de carreira não os tornaram dinossauros, porque eles souberam entender o mundo em que vivem e a plateia representava isso: crianças, adolescentes, jovens adultos e coroas, unidos, cantavam, cada um o seu hino.
Na volta pra casa, um rapaz de uns 25 anos delirava. Falava pelos cotovelos com seu grupo de amigos que “Walk On” havia sido o melhor momento do show (foi um dos melhores). No ônibus, um segurança que trabalhou no espetáculo, um senhor de uns 65 anos que se orgulhava de dizer aos turistas que havia visto gente nadar no Tietê em 1964, mostrava orgulhoso para uma fã mais nova o vídeo que havia feito de “Magnificent”.
E essa é a mágica que faz do U2 uma banda especial, que não à toa bateu o recorde dos Rolling Stones de turnê mais rentável. Eles são bem mais que uma banda hoje: são caras que estão nas casas de quase todo mundo, no mundo todo. Quem não tem uma coletânea, tem um DVD, ou CD baixado da internet, ou viu o clipe de “Vertigo” em algum lugar. Eles são mais que uma banda, são algo familiar, como um celular ou aquele porta-retrato na estante.
E o U2 sabe que todos somos protagonistas. Estimula que os fãs gravem os shows, tirem fotos. Disseram até que estavam gravando os shows e que colocariam as imagens para download no site da banda, mas que, quem baixasse não deveria contar nada ao manager do grupo. Enfim, U2 somos nós.
Quanto à música, mesmo como todo o palco, o telão incrível, que na hora em que se articula, formando uma espécie de globo da morte sobre a banda, lembra a capa do clássico álbum “Tommy”, do The Who (outra referência), ela ainda é o centro do show. E, no cenário futurista, e diante das condições vocálicas de Bono, uma ou outra música perde o sentido. No show que vi, pelo menos, foi o caso de “Pride (In The Name of Love)”: perdida num canto do repertório, sem sentido e sem pique.
Os melhores momentos, sem dúvida, ficaram por conta da produção da banda desde 89, a partir da virada representada por “Achtung Baby”. Abrir o show com “Even Better Than The Real Thing”, em novo arranjo, deu a senha. A bobinha “Get On Your Boots” ganha relevância com os graves extremamente bem equalizados saídos da “aranha”, “Magnificent” explode em cores nos arpejos brilhantes de Edge.
Em “Elevation”, a arquibancada do Morumbi vibrava muito com os pulos do público (eu que nunca havia estado na arquibancada do estádio, confesso que tremi, de medo). Depois de conversar com o público em “I Still Haven´t Found What I´m Looking For”, Bono e companhia batem o ponto em “Pride” e chamam Seu Jorge para uma deliciosa brincadeira com “The Model”, do Kraftwerk, que virou uma bossa de gringo com as ideias cheias de caipirinha, tão diferente que precisei de auxílio para reconhecê-la.
Mas os momentos mais fantásticos vieram depois com o trio formado por “Miss Sarajevo”, emocionante, a primeira que me arrepiou de verdade, com Bono arrancando um tenor não sei da onde, muito, mas muito melhor que a versão da turnê de 2006, uma versão integral e magistral de “Zooropa”, momento em que o telão se articula e vira o “globo da morte”, e “City of Bliding Lights”, que é uma música de show, impressionante.
Outra escorregada foi a horripilante versão de “I´ll Go Crazy If I Don´t Go Crazy Tonight”, um remix tosco do arranjo original com Larry se arriscando numa conga e dando um rolê pelo palco, absolutamente constrangedores (a volta e a conga). Mas, é aquilo, o U2 tem um grau de envolvimento com o público, e um timing de show tão absurdo, que sabem que o ridículo faz parte do espetáculo. Não tem medo dele. Isso aconteceu em “Lemon”, na PopMart, e com o “McPhisto” na turnê ZooTV.
Em “One” e “Where The Streets Have no Name”, os velhos fãs não tinham como não se emocionar. Velhos filmes caseiros mostravam a banda dando um rolê de Trabant em frente ao estádio olímpico de Berlim e no Parque Nacional de Joshua Tree, respectivamente, na época em que estavam na Alemanha e nos EUA, gravando os dois maiores álbums da banda: The Joshua Tree e Achtung Baby.
Para encerrar o show, Bono pede que o público guarde pensamentos para as vítimas do massacre de Realengo, em especial para os pais das crianças mortas. As luzes se apagam, a música, “Moment of Surrender”. Enfim, assim terminou a terceira passagem do U2 pelo Brasil. Depois, as luzes acenderam e tocou a fita de “Rocket Man”, mostrando imagens de astronautas no telão. O U2, sozinho, não pode salvar o mundo, mas é a única banda que tem o direito de achar que ainda pode. E as 90 mil pessoas que estavam ontem no estádio têm certeza disso.
Set List – U2 – 360º Tour – São Paulo – Estádio do Morumbi – 13.04.2011
Even Better Than The Real Thing
I Will Follow
Get on Your Boots
Magnificent
Misterious Ways
Elevation
Until the end of the World
I Still Haven´t Found What I´m Looking For
Pride (In The Name Of Love)
The Model (Kraftwerk cover) – U2 e Seu Jorge
Beautiful Day
Miss Sarajevo
Zooropa
City of Blinding Lights
Vertigo
I´ll Go Crazy If I Don´t Go Crazy Tonight
Sunday Bloody Sunday
Scarlet
Walk On
One
All I Want is You
Where the Streets Have No Name
Hold me, Thrill Me, Kiss Me, Kill Me
With or wout you
Moment of Surrender
sábado, 6 de fevereiro de 2010
Pais, amor, filhos & The Beatles
Hoje é um dia especial para mim. Meu amor me armou uma surpresa. Disse que iria comprar livros, levou minha filha junto, e as duas voltaram com um Álbum Branco (1968) dos Beatles. Uau! Estava louco para ouvir esse clássico na versão remasterizada e fiquei mais uma vez impressionado. As castigadas caixas de meu portátil, que já está comigo há 12 anos, pareciam as de um velho estéreo modular dos anos 70, graças ao som da nova edição.
No quarto de minha filha está um quadro que eu montei toscamente em 1992, aos 17 anos. Em cima de uma moldura velha que achei no lixo do prédio, colei papel pardo e sobre ela as fotos dos quatro Beatles que faziam parte da minha edição em vinil do Álbum Branco. Sobrou um espaço e, em cima, escrevi “The Beatles”, com os tipos mais parecidos que consegui com a minha tosca técnica de desenho, imitando o logotipo da bateria do Ringo, o mesmo usado hoje, ladeados pelas inscrições 1962-1992, para celebrar os 30 anos do primeiro disco dos Beatles, tudo coberto com papel contact para disfarçar a melequeira feita com cola.
Quando mudei para o apartamento que vivo agora, eu quase aposentei o quadro tosco (na foto menor, um detalhe do quarto dela). Quando comentei a ideia com minha filha, então com 6 anos, ela pediu o quadro para ela. Perguntei se ela tinha certeza, se ela não iria acordar à noite assustada pela cara do John ou pelo nariz do Ringo, mas ela disse que não. Fiquei muito orgulhoso, lógico, pois ela gosta das coisas que eu gosto. E, hoje, quando ouvia meu presentinho, ela sabia dizer se quem cantava as músicas era o John ou o Paul, os quais ela já distingue. Logo ela saberá os nomes dos outros dois, eu tenho certeza.
Afinal, tudo começou em 1980. Eu tinha seis anos quando John morreu e ouvia Beatles, àquela altura, eventualmente. A coisa meio que entrava por um lado e saía pelo outro. Lembro de um programa de TV, quando era bem pequeno, talvez uma minissérie, chamada “Quem Ama Não Mata”, que tinha como tema “Yesterday”, creio eu... Uma ou outra que tocava no rádio, mas bem, aconteceu aquilo, o imbecil do Mark Chapman matou John Lennon pelas costas e eu precisei do Cid Moreira e do Sergio Chapelin para entender quem eram aqueles caras esquisitos do Rubber Soul, do Revolver e do Sgt. Pepper´s e de um compacto de Let It Be, empoeirados, que meu pai mantinha escondidos em meio a discos da Jovem Guarda e do rei Roberto, ótimos também, mas eles receberão um capítulo a parte.
De lá para cá, muita água rolou, duas bandas, um período como editor de música e crítico musical em um site jovem, dois anos na revista da NET, escrevendo de vez em quando sobre música, até que o velho amigo Luís Alberto Nogueira me convida para fazer um frila “que tem a sua cara”... Uma matéria sobre uns especiais e filmes dos Beatles que seriam exibidos no Multishow que incluiria uma lista das 20 mais importantes canções deles, escolhidas por este que vos fala.
Uau! Que responsa! A pauta fez bater a fissura de que eu precisava urgentemente começar a tomar vergonha na cara e dar a minha contribuição para a EMI continuar sendo um dos poucos moedores de carne ainda ativos da moribunda indústria da música e, no Rio, no fim de outubro, no primeiro finde após ser pautado, dei-me de presente o Abbey Road (1969). Fiquei passado ao ouvir a nova edição e decidi que completaria as lacunas de minha coleção dos Beatles em CD com as versões remasterizadas dos discos que eu não tinha ainda, exceto o Yellow Submarine, que só tem quatro inéditas e eu me recuso a comprar.
Está sendo uma deliciosa viagem desde então e hoje, graças ao presente de Clarinha, completei minha missão, em pouco mais de três meses. Estão comigo, fechando a galeria de todos os discos dos Beatles que eu gostaria de ter, além do Branco e do Abbey, Help! (1965) e Sgt. Pepper´s (1967) que eu ganhei no amigo secreto do trabalho, Magical Mistery Tour (1967), que ganhei da minha irmã, e Revolver (1966), que ganhei de minha mãe, ambos de Natal.
O último, aliás, é a segunda vez que ganho da minha mãe, pois em 05 de setembro de 90, na época da primeira grande remasterização, eu ganhei o vinil (pois é, gente, 16 anos, eu ainda pedia presentes para minha mãe, que ralava _e ainda rala_como costureira para me dar esses meus luxos de adolescente). Pois é, “como ele sabe a data?”. Eu tinha a mania de anotar dentro da capa, a data em que eu comprava cada disco de vinil. Com os cds, que passei a comprar em 92/93, eu abandonei a mania.
Só sei que se não fosse o compacto de Let it Be de meu pai, a morte de John Lennon, os presentes de minha mãe quando adolescente, a amizade do Luís e o amor de minha mulher e o gosto de minha filha pelos Beatles, eu não estaria escrevendo este texto agora e, com certeza, seria bem mais infeliz.
Ah, em um parágrafo vamos tentar explicar o que é arrebatador nas versões remasterizadas dos discos dos Beatles. Bem, a mixagem tá super alta. Parece que você está ouvindo um vinil daqueles antigos, pesados, em um som estéreo daqueles de matéria especial da SomTrês sobre qual o melhor som para a sua garçonière. Os vocais estão destilados pelas máquinas de mixagem digital, o baixo e o bumbo, destruidores, lá na frente, e as guitarras, limpas. É uma experiência sonora fantástica. E o melhor: em qualquer aparelho de som é assim. Fora a parte gráfica, a mais bem feita de todos os tempos, com um papel maravilhoso e tem sempre fotos alternativas de takes manjados. Um exemplo é a famosa foto da sessão de 28 de julho de 1968, com os Beatles com os cabelos crescidos (essa imagem aí de cima), ao vento. No encarte do álbum branco há uma outra versão dessa foto, pouco conhecida, com o vento muito forte. Enfim, relíquias que só os fãs e seus herdeiros conseguem entender.
P.s.: E para quem ficou curioso, segue a listinha das 20 músicas que eu considero, em termos de impacto social e histórico, as mais importantes na carreira dos Beatles: Love Me Do, Please, Please Me, She Loves You, I Want Hold Your Hand, I Feel Fine, Help!, Yesterday, Norwegian Wood, Tomorrow Never Knows, Yellow Submarine, Strawberry Fields Forever, Penny Lane, A Day In The Life, Lucy In The Sky With Diamonds, All You Need Is Love, Hey Jude, Helter Skelter, Get Back, Something e Let It Be. Quer saber os motivos das escolhas? Vá ao seu dentista e roube a Monet do mês passado.
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sábado, 24 de outubro de 2009
Wry, Sesc Vila Mariana, 08.10.09*
Com um pouco de atraso, conto aqui sobre o show do Wry no Sesc Vila Mariana, em São Paulo, no último dia 8 de outubro, o último show da turnê do CD She Science no Brasil após a volta dos meninos de Sorocaba ao país.
Primeiro lugar, o imprevisto. Quinta-feira, saíram de Sorocaba cinco horas antes do show, com o intuito de chegar mais cedo e passar o som. Eles nunca gastaram mais de uma hora e meia para chegar em São Paulo (a viagem é de 90 km), mas levaram cinco horas. Resultado, chagaram 20h20, 10 minutos antes do horário previsto para o início do show.
Pressionada pelo pessoal da técnica do Sesc, a banda teve que encurtar o repertório e, praticamente, passar o som no palco, com tudo plugado. Apesar dos percalços, o Wry fez um show maravilhoso. Como de costume, Mario foi o entertainer na noite dedicada ao som shoegaze. Não faltaram olhares para o chão durante a execução das músicas, especialmente do baixista W27, que parece tocar em transe, mas Mario é uma simpatia, sempre puxando papo e pedindo para que luzes fossem jogadas sobre a plateia, "para ver quem veio".
E o público que encheu meio auditório do Sesc sabia que nada os decepcionaria. Eu não via o Wry há anos. Salvo engano ou excesso de álcool, não consegui vê-los da última vez que eles estiveram no Brasil durante os 7 anos em que ficaram na Inglaterra gravando, vivendo, sofrendo e burilando seus sons na friaca britãnica, conhecendo gente bacana como Tim Wheeler, Gordon Raphael, e seus ídolos do My Blood Valentine, com quem até tomaram umas e outras.
E realmente o show foi fantástico, perfeito, atraindo inclusive novo público para a banda, como por exemplo, minha mulher, Rosa Clara, que curte mesmo é uma boa MPB. No fim do show, ela me surpreendeu dizendo que gostou e afirmando que "o barulho do Wry fazia todo o sentido, porque você vê que eles tem uma proposta, é arte pura". E é verdade.
Mesmo sem poder exibir as projeções que pretendiam mostrar, a banda foi coesa e escolheu o melhor do passado e do presente da banda, como numa prestação de contas de tudo o que viveram e aprenderam nesses mais de 15 anos de estrada (o meu primeiro contato com o Wry foi em 1995, quando eles foram a Santos tocar com o Train Crash os sons da demo Morangoland).
Houve canções antigas, como um trecho de "Under The Sky", de 1998, no fim do show, e novidades como "Dois Corações e o Sol", de She Science, lançada este ano, de versos belos como "quero entender os motivos de se esconder/de fugir do mundo"... "esses meus sonhos são memórias do que será/ então só quero dois corações e o sol". Outro destaque é a novíssima "nossa estória começa agora". E, claro, não poderia faltar a canção preferida de Mario (e a minha também): "Different From Me", lançada ano passado.
Fantástico também foi poder rever o talento de Renato Bizar na bateria. Renato voltou a banda este ano, com o retorno do grupo ao Brasil. A saudade bateu e ele havia voltado pra Sorocaba antes do grupo. Sua alegria em tocar é contagiante. Impressionante também a quantidade de ruídos e fluidos que Luciano Marcello e Mario tiram de suas guitarras, formando uma parede intensa de som e fúria. Que eles continuem. Amém. Só faltou "Sleeper".
Set List
1. Sister - 2. Never Sleep (When I Go) - 3. Bitter Breakfast - 4. Million Stars In Your Eyes - 5. Disorder - 6. Dois Corações e o Sol - 7. Nossa Estória Começa Agora - 8. In The Hell Of My Head - 9. Cancer com interferência de Under de Sky no final barulhento.
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Contato para shows:
contatowry@hotmail.com
msn: contatowry@hotmail.com
skype: william_leonotti
William Leonotti -W27
Imprensa: Rogerio Garcia
rogerio.sgarcia@gmail.com
* Publicado originalmente por MO no blog AmplificaSound
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domingo, 5 de julho de 2009
Nasi: sozinho e apaixonado
Depois do traumático e nada diplomático rompimento com o Ira!, em 2008, após uma briga por questões trabalhistas com o irmão que era empresário do grupo, Nasi resolveu recomeçar “sozinho e apaixonado”, como canta nos versos de “Bebendo Vinho”, do bardo gaúcho Wander Wildner, gravada pelo Ira! em 1999 no álbum “Isso é Amor”, e retomada agora para abrir o show que realizou ontem à noite, no Teatro do Sesc, em Santos, o primeiro na atual formação de sua banda solo, cuja turnê começou em março deste ano.
A escolha não foi à toa. Paixão pelo que faz e uma nítida solidão tornam os termos “sozinho e apaixonado” o moto perfeito desse artista, que não dá sinais de querer parar e que escolheu um repertório logicamente relacionado à sua própria carreira (e os mais de 20 anos com o Ira! não foram esquecidos) e ao momento artístico e pessoal que vive.
Como grande intérprete que é, Nasi não escolhe as músicas à toa. Seu principal critério parece ter sido as mensagens das letras das músicas e a identificação com os artistas que as gravaram originalmente. Parece ter havido também uma preocupação em evitar clássicos do Ira! de autoria do atual desafeto do guitarrista Scandurra, que ficou do lado do empresário irmão de Nasi e não do amigo de mais de 30 anos, na briga que levou ao fim da banda.
Ou seja, o show não teve “Envelheço na Cidade”, “Flores em Você”, “Dias de Luta” ou “Pobre Paulista”, músicas que segundo Nasi, em recente entrevista, remetem a um sentimento de amizade que não existe mais, e que ele não pretende tocar por um bom tempo. Das 23 músicas do show, apenas três tem assinatura 100% Edgard Scandurra.
Mesmo assim, a plateia estava ganha e o ovacionou em “Bebendo Vinho”. Essa escolha de palavras e canções não poderia ser mais apropriada quando Nasi continua o show com “Por Amor”, do recém-falecido Zé Rodrix e de Reinaldo Bessa, e “Pra Ficar Comigo”, versão dele e André Jung para “Train in Vain”, do Clash, ambas gravadas pelo Ira! no álbum “Acústico MTV” (2004), disco de maior sucesso da carreira da banda.
“Por Amor” traz os versos “movido apenas por amor vou em frente”, com a banda tocando pesado, rápido e alto, como deve ser num bom show de rock. A letra é uma síntese do Nasi apaixonado pelo palco e pelo público, que não consegue abandoná-lo, mesmo que “às vezes certo, às vezes meio confuso”, como os versos da canção. A fila de sucessos inicial termina com “Tarde Vazia”, clássico do Ira! de autoria de Ricardo Gaspa e Scandurra.
Na escolha minuciosa do repertório, Nasi não deixa de lado suas predileções ao tocar dois blues que gravou com o Nasi e os Irmãos do Blues, e uma versão blues de “Música Urbana”, da Legião Urbana, nem esquece de fazer um painel de sua carreira, lembrando, inclusive “Verdades e Mentiras”, que gravou com o Voluntários da Pátria, projeto que tocou paralelo ao Ira! no início da carreira da banda e que terminou, segundo suas próprias palavras “porque o vocalista brigou com a banda”. Nesse momento, em uma clara alusão à briga familiar que destruiu o Ira!, diz: “vocês são a minha família”.
Aproveita e também enaltece o underground, “dos bons tempos da Bela Vista”, bairro onde nasceu e no qual frequentava o Madame Satã, palco de vários dos grupos da época, e homenageia os colegas de banda, em especial o guitarrista Nivaldo Campopiano, que era do Muzak, da qual Nasi interpretou uma canção. “Esse é da turma que não se vendeu”, alfineta, ao elogiar o colega, que ocupa a dura função de tocar blues com solos límpidos e músicas do Ira! sem tentar imitar Scandurra. Nasi também agradeceu o amigo Johnny Boy, que gravou com o Ira! o álbum “7” (1996), mas está no baixo, substituindo o colega Ricardo Gaspa, do Ira!, que assumiu a função nos primeiros shows da turnê solo de Nasi. Completam a banda André Youssef (teclado) e Evaristo (bateria).
Recém egresso de uma homenagem prestada ao álbum “Krig-ha Bandolo!”, durante a última virada cultural em São Paulo, Nasi aproveitou-se e, claro, jogou para a plateia e incluiu um bloco de quatro canções de Raul Seixas: “Metamorfose Ambulante”, “As Minas do Rei Salomão”, “Mosca na Sopa” e “Sociedade Alternativa”.
Depois de “Eu Vou Tentar”, balada de Rodrigo Koala, gravada no último disco do Ira!, “Invisível DJ”, Nasi rendeu homenagem à Cazuza, com “O Tempo Não Pára”. Cada verso é respirado, cantado, ou melhor, cuspido. Na hora do verso “me chamam de ladrão, de bicha, maconheiro”, Nasi os adapta à sua vida e muda para “me chamam de bandido, louco e maconheiro”.
Um dos momentos mais bonitos do show foi a versão de “Eu Quero Sempre Mais”, também de “7”, em que Nasi deixou o público de Santos cantar a música praticamente na íntegra, a la Tim Maia, logo, logo vai estar no youtube, aposto. Em seguida, o primeiro bloco foi encerrado com o clássico “Núcleo Base”. Estas foram as duas únicas músicas da primeira parte do show de autoria “100% Scandurra”, o público aplaude Nasi e a banda, que sai abraçada do palco, de pé, e os chama de volta.
O bis começa apenas com Nasi e Johnny Boy numa versão linda de “O Girassol”, também de “7” (última música de Sandurra no show), e prossegue com uma versão raivosa de “Hoochie Coochie Man”, a cover de “Epitáfio”, gravada por Nasi na trilha da novela “Chamas da Vida”, uma versão linda para “É Preciso Dar um Jeito, Meu Amigo”, de Erasmo Carlos e Roberto Carlos, gravada pelo primeiro em 1971, no magnífico “Carlos, Erasmo”, “Teorema”, da Legião, gravada pelo Ira! em “Isso é Amor”, e, para fechar “Aluga-se”, de Raul.
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