Sobre tudo o que envolvia a banda, o que mais me marcou, claro, foi o suicídio de Ian Curtis, aos 23 anos. Me intrigava também o fato de eu não lembrar que o Jornal Nacional tivesse noticiado sua morte (eu lembrava da matéria sobre a morte do John Lennon, porque não lembraria da matéria sobre a morte de Ian Curtis? Conclusão, não deve ter havido matéria do JN mesmo, hehehe).
Portanto, ler as letras dele era a única forma de tentar entender o caso. Era minha forma de ser Maigret ou Sherlock por algumas horas. Por que ele via o filme "Woycek"? (caramba, até hoje não vi esse filme do Herzog! Algumas coisas continuam difíceis mesmo com a internet e o You Tube). Por que escutava o "The Idiot", do Iggy Pop? Essas imagens e essa música influenciaram sua decisão?
E conhecendo profundamente a obra do Joy Division e do New Order ao mesmo tempo (é bom lembrar que a obra de Curtis era relançada mundialmente ao mesmo tempo que o NO realizava uma gigantesca turnê mundial) permitiu pensar numa deliciosa versão de quadrinhos Marvel “o que teria acontecido se... Ian Curtis estivesse vivo”.
Que letras! “Procession moves on, the shouting is over”, “When routine bites hard, and ambitions are low”. Que vocabulário para um operário epilético! E que música! O disco tem “Love Will Tear Us Apart”, “The Eternal”, “Twenty Four Hours”, “Heart and Soul”, “Decades”, um lado mais hard, outro mais soft, igualmente tristes. Precisa dizer mais alguma coisa? Finalmente, a palavra minimalismo, que tanto os críticos usavam para descrever os anos 80, fazia algum sentido para mim.
Naquela época, jovem de tudo, era muito fácil ouvir Joy Division. O coração aguentava fácil. Eu era mais romântico que hoje e meus amores platônicos irrealizados tinham como trilha o Joy. A tristeza perturbadora de "Closer" ajudou na formação do meu caráter. Ontem, conversava com um amigo, e ele falou que hoje toma “Joy Division em doses homeopáticas”. É bem por aí. A dura verdade poética das cenas retratadas por Ian pode ser perigosa.
Cotação: *****
Other Stuff
Meu vinil é um segundo relançamento da obra da banda, de 92, já sem o selo da Stiletto e com a reprodução do selo original da Factory, com o tradicional logo do f na parte superior e sem descrição de A side/ B side. Lindo, completo. Estava na parede da outra casa até um mês atrás. Aqui na casa nova ele voltará para a vitrola, em pequenas doses...
Cotação: ****