sexta-feira, 5 de outubro de 2007

Um brinde ao Skank



“Quando a noite estender um manto sobre nós

Meu abrigo então será o som da sua voz”

O Som da Sua Voz (Samuel Rosa/Chico Amaral), in Carrossel


Essa história mistura o profissional com o sentimental. Era junho de 2000, e eu trabalhava como editor de música do site Zoyd quando me credenciei para a coletiva que o Skank daria em um flat da região da Paulista para falar à imprensa de São Paulo sobre o lançamento do CD Maquinarama.


Até então, tirando a capacidade inerente de fazer hits pop como “Jackie Tequila” e “Uma Partida de Futebol” e clipes bacanas, como “Mandrake e os Cubanos”, o Skank não havia me cativado, exceto uma versão sensacional, em espanhol, de “Wrapped Around Your Finger” e o primeiro sucesso deles, “Tanto”, versão de “I Want You”, de Bob Dylan, com uma letra linda de Chico Amaral.


A coletiva começou com uma audição de Maquinarama. Tudo era diferente. “Três Lados” já tocava no rádio, mas não deixava claro tudo que estava por vir. Lembro dos jornalistas boquiabertos, não acreditando (naquele tempo o Napster era uma sombra e os CDs ainda reinavam inauditos até o lançamento). O disco já era diferente até na capa, com a foto de uma obra do pós-moderno Kenny Scharff. Ah, e o baixista Lelo Zanetti estreava como compositor de uma faixa sozinho, "Canção Noturna", com letra de Chico Amaral, até hoje presente em todos os shows do Skank, tradição que se manteve nos discos seguintes.


O Skank tinha deixado o Ska em alguma esquina e se mirava em todas as suas outras influências pop. O disco já abria com uma parceria bacana de Samuel e Edgard Scandurra, em “Água e Fogo” e bebia em um pouco de tudo: Beatles, Clube da Esquina (ainda menos que no Cosmotron e Carrossel), R.E.M, música de filmes do Tarantino, Fausto Fawcett_ o que é “Balada do Amor Inabalável”, meu Deus? Pop perfeito, o mais carioca que quatro mineiros podem chegar, sem dúvida.


Enfim, tudo era diferente e a atitude tranqüila da banda na coletiva me cativou de vez. Eu era, a partir dali, um fã de carteirinha da banda e passei a prestar a atenção em tudo o que eles faziam. Depois comprei o CD Cosmotron, de 2003, e assisti dois shows daquela incrível turnê em São Paulo, inclusive a gravação do especial Multishow.


Cosmotron, aliás, tem minha música preferida do Skank, “Dois Rios”, parceria de Samuel, Lô Borges e Nando Reis, com um piano maravilhoso de Henrique Portugal, e o maior hit da história do grupo, a super-pop “Vou Deixar”. A música tocou até encher um pouco o saco, mas é inegável. É um hit massivo, impressionante. A introdução na Rickenbacker, as alterações de dinâmica, o coro no refrão, a ponte quase sussurrada. Que canção!


E eles continuam surpreendendo. Escrevo esse texto ouvindo o último CD deles, Carrossel, lançado ano passado. O álbum marcou meu relacionamento com uma pessoa muito incrível, mas tão maluquinha e confusa como eu. O relacionamento acabou, mas meu amor pela banda e o CD ficaram aqui, intocáveis na estante. É reconfortante saber que há espaço para melodia no pop-rock brasileiro, com gravações de qualidade em trabalhos excelentes de gente como o Skank, Acústicos e Valvulados, Los Hermanos, Ludov, Pato Fu e Ira!


Carrossel continua seguindo a trilha de novas parcerias abertas em Maquinarama. Hoje, além de Chico Amaral, na minha opinião, um dos três maiores letristas brasileiros, autor de versos lindos como “das volutas que moram dentro/ do meu pesamento morno”, de Fica (Maquinarama), o Skank tem como parceiros fiéis, Lô Borges, Nando Reis, Fausto Fawcett, Rodrigo Leão e Humberto Effe. E nesse disco entraram Arnaldo Antunes, em “Trancoso” e César Maurício, do Virna Lisi, autor da letra de “Seus Passos”, uma das mais belas do álbum ("nesse jogo de reflexos, a certeza me distrai...").

Na última segunda-feira, dia 1, assisti um show da turnê Carrossel, numa festa fechada de uma empresa (onde tirei a foto acima). Mesmo com a platéia carregada de plumas e paetês, proseccos e Red Labels, o Skank não deixou a peteca cair. É claro que não dá para escapar de “Uma Partida de Futebol” e “Jackie Tequila”, mas é possível ouvir pérolas como “Mil Acasos”, “Uma Canção é Pra Isso”, “Dois Rios”. Skank ao vivo ou no disco é isso, um brinde aos ouvidos e à sensibilidade.


Cotações:

Maquinarama (2000) - **** 1/2

Cosmotron (2003) - ****


Carrossel (2006) - *****

Other Stuff:

Todos os CDs com encartes completos, com arte, letras e informações.

Cotação: ***** (para todos)

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