domingo, 21 de dezembro de 2008

Canções do coração

A música sempre pode nos surpreender. Já tinha ouvido algumas vezes o último disco do Weezer (The Red Album), lançado este ano. E gostei de tudo. Ontem, viajando com a minha filha, comecei a prestar a atenção na letra de Heart Songs, enquanto ela cochilava, e pirei. De uma simplicidade enorme, essa música pode ser a minha, a sua, a história musical de diversas pessoas de 30 e poucos anos...

Aproveito e desejo Feliz Natal a todos.

Leiam a letra. No You Tube tem um pedaço dela, conforme eles a apresentam na atual turnê. Rivers entra no palco e põe o disco para tocar... Sen-sa-cio-nal!

Heart Songs (Weezer)

Gordon Lightfoot
Sang a song
About a boat
That sank in the lake
At the break
Of the morning
A Cat named Stevens
Found a faith
He could believe in
And Joan Baez
I never listened
Too much jazz
But hippie songs
Could be heard
In our pad
Eddie Rabbitt sang
About how much
He loved a rainy night
Abba, Devo, Benatar
Were there day
John Lennon died
Mr. Springsteen said
He had a hungry heart
Grover Washington
Was happy on the day
He topped the charts
These are the songs

Chorus:
These are my heart songs
They never feel wrong
And when I wake
For goodness sake
These are the songs
I keep singin'

Quiet Riot got me started
With the bangin' on my head
Iron Maiden, Judas Priest
And Slayer
Taught me how to shred
I gotta admit though
Sometimes
I would listen
To the radio
Debbie Gibson
Tell me that you think
We're all alone
Michael Jackson's
In the mirror
I've gotta have faith
If I wanna see clear
Never gonna give you up
Wish me love
Or wishing well
It takes two to make
A thing go right
If the Fresh Prince
Starts a fight
Don't you worry
For too long
'Cause you know
These are the songs

(Chorus)

Back in 1991
I wasn't havin' any fun
'Till my roommate said
"Come on and put
A brand new record on"
Had a baby on it
He was naked on it
Then I heard the chords
That broke the chains
I had upon me
Got together with my bros
In some rehearsal studios
Then we played
Our first rock show
And watched the fan base
Start to grow
Signed the deal that gave
The dough to make
A record of our own
The song come
On the radio
Now people go
This is the song

These are my heart songs
They never feel wrong
And when I wake
For goodness sake
These are the songs
I keep singing

(4x):
These are the songs
I keep singing

segunda-feira, 10 de novembro de 2008

25 músicas, 17 amigos



Não sei se por causa dos tempos de banda, mas quando penso em rock, penso coletivamente, penso em comunidade. São raras as ocasiões em que tenho a sensação de pertencimento. E não há outra ocasião em que me sinto mais ainda pertencer ao coletivo “fã de rock´n´roll” do que num show de rock, ainda mais num show mágico como o do R.E.M. ontem à noite no Via Funchal, em São Paulo.

Tanto é verdade que, além de curtir as 25 músicas maravilhosas do show, encontrei 17 amigos e conhecidos antes, durante e depois da apresentação, de diferentes épocas, de diferentes idades, de diferentes locais de trabalho, de diferentes cidades, mas todos unidos, ali, por um só motivo: a música que Michael Stipe, Mike Mills e Peter Buck fazem juntos há mais de 25 anos.

Foi a minha segunda vez com a banda e para mim foi a melhor. A primeira foi em 2001, com a minha mãe, que é fãzoca dos caras, no Rock in Rio 3. Foi sensacional, mas teve o grande show do Foo Fighters e aquela grandiosidade de festival em que a coisa se perde um pouco, fora o perrengue de ir num show do outro lado da cidade, bem longe do bairro onde estava hospedado no Rio, etc...

Mas, ontem, no Via Funchal lotado, as sensações foram todas amplificadas. Era como estar em casa rodeado de amigos, ouvindo a banda num estéreo possante... E ainda teve um repertório, genial, que incluiu a antiga “(Don´t Go Back To) Rockville” no bis e muitos, muitos clássicos. É uma banda de uma estatura tão magistral que toca uma música nova: “Supernatural Superserious” no bis. Isso é para poucas e raras bandas com mais de 20 anos de estrada.

O público deu show, mesmo com a lacuna causada na platéia pela área vip extremamente mal-dimensionada. No refrão de “It´s The End...”, a galera aceitou o convite de Stipe e gritava o “fine” ruidosamente. Nos minutos que antecederam o bis, a gritaria foi ensurdecedora, com muitas pessoas levando as mãos aos ouvidos, no momento em que o R.E.M. colocou um post it no telão com a provocadora pergunta: “mais r.e.m?”.

Como eu queria poder ir amanhã também... Mas não vai dar. Não posso, mas que eu gostaria eu gostaria...

Para quem não foi, babem no set list...

SET LIST – R.E.M. - São Paulo, Via Funchal, 10.11.08 – 110 minutos

Living Well Is The Best Revenge (Accelerate, 2008)
I Took Your Name (Monster, 1994)
What´s The Frequency Kenneth (Monster, 1994)
Fall On Me (Life´s Rich Pageant, 1986)
Drive (Automatic For The People, 1992)
Man Sized Wreath (Accelerate, 2008)
Ignoreland (Automatic For The People, 1992)
Hollow Man (Accelerate, 2008)
Imitation of Life (Reveal, 2001)
Electrolite (New Adventures in Hi-Fi, 1996)
The Great Beyond (Man On The Moon Soundtrack, 1999)
Everybody Hurts (Automatic For The People, 1992)
She Just Wants To Be (Reveal, 2001)
The One I Love (Document, 1987)
Sweetness Follows (Automatic For The People, 1992) - acústico
Let Me In (Monster, 1994) - acústica
Bad Day (In Time, The Best Of R.E.M, 2003)
Horse To The Water (Accelerate, 2008)
Orange Crush (Green, 1988)
Its The End Of The World As We Know It (And I Feel Fine) (Document, 1987)

BIS
Supernatural Superserious (Accelerate, 2008)
Losing My Religion (Out Of Time, 1991)
Animal (In Time, The Best Of R.E.M, 2003)
(Don´t Go Back To) Rockville (Reckoning, 1984)
Man On The Moon (Automatic For The People, 1992)

sábado, 4 de outubro de 2008

Integridade = R.E.M.



Uma das principais notícias do meio musical em 1987, além do álbum The Joshua Tree e o U2 ocupando os primeiros lugares nas paradas dos EUA, era o sucesso quase improvável do R.E.M. (“rapid eye movement”, fase do sono em que ocorrem os sonhos). O quarteto formado por quatro jecas-universitários era de boa estirpe, a pacata Athens, na Georgia, berço de muito blues e, além de muitas plantações de algodão, do B-52´s, e undergrounds como Matthew Sweet e o Pylon. O cenário perfeito para o tédio? Não, Rock´n´Roll!!! Ou como dizem lá na Geórgia, quando perguntam porque tanta música boa vem de lá, “deve ser algo na água”.

E foi assim que quatro garotos que não sabiam muito bem o que queriam Michael Stipe, Mike Mills, Peter Buck e Bill Berry se juntaram para tirar um som. Buck, fã de Byrds, aprendeu a tocar guitarra quase adulto. Aprendeu fazendo (putz, isso me lembra tantas coisas...).

Pois é, voltando a 87, não esqueço o dia em que ouvi “The One I Love” pela primeira vez. Deus, o que era aquilo? Um riff de guitarra forte, predominante, coisa rara de se ouvir no rock brasileiro daquele tempo (como se ouvia e se gravava mal guitarra nos anos 80!!!)... Era Buck. E uma voz, uma voz dissonante, um Bob Dylan raivoso, com mais potência, forte tom anasalado... Era Stipe.

Dias depois vi aquele clipe bombástico de “The One I Love”, que anos depois descobri que tinha o dedo do próprio Stipe, naquele típico jogo de esconde-esconde em que ele viveu mais alguns anos. Havia imagens da banda tocando filmadas em ângulos diferentes e, intercaladas, cenas belas, oníricas, como a letra da música: “Essa vai para quem eu amo/ Essa vai para quem eu deixei para trás/ Uma simples muleta para ocupar meu tempo/ Essa vai para quem eu amo”. Essa quem? A canção, uma carta ou a tal muleta?

Se fosse só “The One I Love”, tudo bem, eles eram um single de sucesso. Parabéns. Mas era muito mais. Lembro do dia em que ganhei um cheque-disc da Prodisc e corri na loja do novíssimo Shopping Miramar (que não caiu!) e peguei o meu R.E.M.. Document, o LP, tinha “The One I Love”, mais dez faixas e nenhum encarte. Mesmo assim, preferi não escutar as outras faixas na loja, botei o bolachão embaixo do braço e fui embora.

Cheguei em casa e pus o disco para tocar na hora. Lembro que era umas 18h, ouvi umas três vezes, ouvi alto até umas 21h... Minha mãe estranhou um pouco, mas logo estava cantarolando comigo. Lembro que foi uma das primeiras vezes que vi que minha mãe curtia algum som que eu gostava também (fora os que ela gostava e, naqueles anos rebeldes, eu dizia que não. Robertão eu te devo um post).

O que dizer daquele lado A absurdo? Que abre com “Finest Worksong” e termina com “It´s The End Of The World As We Know It (And I Feel Fine)? E o lado B, super místico, que começa com “The One I Love” e termina com “Oddfellows Local 151”? Nada, nada a mudar, nada a reparar. Apenas tocar de novo e de novo. Logo, fui mostrar a novidade aos amigos e todos gostaram muito.

Fiquei apreensivo quando, meses depois, após o sucesso impressionante de “The One I Love”, o grupo pensou na carreira e assinou um contrato com a Warner, deixando a independente I.R.S, que até hoje fatura vendendo o catálogo dos anos independentes do R.E.M. (1982-1987). Pensei: “Xiii, vai dar m...”...

Um ano depois, em 1988, a 95 FM (já falei dela aqui) começou a tocar “Orange Crush”, um rock tão quente quanto o efeito da arma química de que falava, o agente laranja, despejado na guerra perdida do Vietnã, na primeira guerra sem razão de inúmeras que a América enfrentou dos 70 para cá... Se algo havia mudado é que toda a banda estava um ano mais velha, pois o produtor era o mesmo, o vigor, idem. Mais inspirados, aperfeiçoaram o seu pop em pérolas como “Get Up”, “Stand” e “Pop Song 89”.
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Isto tem um nome: integridade. E pude saber que existia isso nas artes e na música pop e um sinônimo disso na música passou, dali em diante, a ser o R.E.M.

O lado político não poderia faltar (estamos falando aqui de um disco gravado nos anos 80!!!). “World Leader Pretend” é uma de minhas músicas preferidas de todos os tempos. “I raised the wall and I will be the one to knock it down”. Aquela música parecia ter sido uma entrega especial para mim. Eu era essa pessoa, eu era o adolescente pobre, ruim nos esportes, com poucos amigos, sem namorada, magrelo... Eu não tinha mulheres, não tinha grana, mas tinha a música, o cinema e os livros. Quando eu conseguia algum vendendo o jornal e as garrafas que catava na escadaria do prédio, eu comprava meus disquinhos e com eles submergia no meu mundo e através deles derrubei muitos muros intransponíveis e visitei lugares inimagináveis.

E muito disso eu devo a essa banda incrível, o R.E.M., que tive o prazer de curtir ao vivo junto com a minha mãe no Rock in Rio 3, em 2001, e que agora verei de novo, em São Paulo, sete anos depois, R$ 200 mais pobre no banco, mas milhões mais rico de espírito.

Leia a letra de "World Leader Pretend"

terça-feira, 16 de setembro de 2008

Richard Wright *1943 +2008


Em todas as bandas eu sempre gostei da terceira força. Nos Beatles, George Harrison, nos Stones, impossível não simpatizar pelos enigmáticos Brian Jones e Mick Taylor ou pelo sorriso fácil de Ronnie Wood. O mesmo acontece no Floyd com um de seus membros fundadores: Richard Wright, o tecladista, segunda voz da banda e terceira força compositora do quarteto no período entre 1968 e 1975, o auge do Floyd.

Wright morreu ontem em casa, aos 65 anos. Mais uma vítima do câncer no rock and roll. Câncer que levou George e tantos outros astros do rock. E ontem não teve como ficar triste, até porque não há, agora não há mesmo nenhuma chance de ver o Pink Floyd clássico unido novamente: Waters, Gilmour, Wright e Mason, a formação que se apresentou junta pela última vez no Live Aid 2005.

Agora é só nos Cds e nos DVDs da banda ou de David Gilmour que será possível ouvir a maravilhosa voz de Wright em clássicos como “Time” (ele que leva sozinho aquele trecho: “ev´ry year is getting shorter, never seem to find the time/ plans that either come to naught or half a page of scribbled lines/ hanging on a quiet desperation is the english way/ the time is gone, the song is over, thought i´d something more to say), “Echoes”, “Breath”, “Stay” e tantas outras.

Eu, especialmente, gosto muito, mas muito mesmo, de Wright como pianista. Adoro o jeito como ele martela as teclas no início da carreira, os acordes da surrealista “Remember a Day”, em Saucerful of Secrets, ou nas suas partes no álbum More. Ele é simplesmente brilhante nas suas contribuições ao Dark Side of The Moon, na suíte “The Great Gig in The Sky” e em “Us And Them”.

Lembro do dia em que ouvi pela primeira vez o Ummagumma, um álbum duplo completamente maluco do Pink Floyd. Cada Floyd tem meio lado de um disco experimental e o outro disco é um ao vivo com um lado praticamente tomado por uma versão extended de “Careful With That Axe, Eugene”, da trilha de Zabriskie Point, de Antonioni. Na boa, apesar das canções bonitinhas de Waters e Gilmour nesse disco, a melhor parte mesmo é Wright martelando o piano em sua suíte instrumental, “Sysyphus”. Naquela tarde, cochilei ouvindo o disco, acordei com Wright ao piano. Acho que foi o melhor susto da minha vida.

Wright, numa entrevista, disse que abandonou a carreira de letrista, após algumas tentativas fracassadas na opinião dele. Me admira o fato que sua última contribuição como “letrista solo”, após as belas “Remember a Day” e “See Saw”, em Saucerful of Secrets, foi justamente um clássico: “Summer of 68”, uma das três canções do álbum Atom Heart Mother, junto com “If” e “Fat Old Sun”, que nos aliviam dos trumpetes e outras maluquices de Ron Geesin na suíte que dá nome ao disco. Me despeço com essa letra, que é o desencanto pós-verão do amor, a típica desilusão de acordar após uma noite de sexo casual sem amor.

Adeus, Rick.

Summer ´68

Would you like to say something before you leave?
Perhaps you'd care to state exactly how you feel.
We say goodbye before we've said hello.
I hardly even like you.
I shouldn't care at all.
We met just six hours ago.
The music was too loud.
From your bed I came today and lost a bloody year.
And I would like to know, how do you feel?
How do you feel?

Not a single word was said.
The night still hid our fears.
Occasionally you showed a smile, but what was the need?
I felt the cold far too soon in a room of ninetyfive.
My friends are lying in the sun, I wish that I was there.
Tomorrow brings another town, another girl like you.
Have you time before you leave to greet another man
Just to let me know, how do you feel?
How do you feel?
Goodbye to you.
Charlotte Pringle's due
I've had enough for one day.

ATUALIZAÇÃO:

Comentário de Roger Waters sobre a morte de Rick Wright - "I was very sad to hear of Rick's premature death, I knew he had been ill, but the end came suddenly and shockingly. My thoughts are with his family, particularly Jamie and Gala and their mum Juliette, who I knew very well in the old days, and always liked very much and greatly admired. As for the man and his work, it is hard to overstate the importance of his musical voice in the Pink Floyd of the 60's & 70's. The intriguing, jazz influenced, modulations and voicings so familiar in "Us & Them" and "Great Gig In The Sky", which lent those compositions both their extraordinary humanity and their majesty, are omnipresent in all the collaborative work the four of us did in those times. Rick's ear for harmonic progression was our bedrock. I am very grateful for the opportunity that Live 8 afforded me to engage with him, & David & Nick that one last time.
I wish there had been more."

Roger Waters
September 2008

sábado, 30 de agosto de 2008

U2 3D


Direção: Catherine Owens, Mark Pellington

Ontem de manhã soube que estrearia em São Paulo o novo filme do U2, U2 3D, o primeiro filme em três dimensões de um concerto de rock. Já tinha lido um monte sobre a premiere mundial do filme em Cannes no ano passado e estava empolgado e curioso.

Achei que seria mais uma cascata tecnológica e que poderia estar jogando fora meus R$ 50 (projeções 3D são mais caras, pois têm que ser feitas em salas especiais da Dolby e tem uma meia dúzia dessas em SP. No Bristol, onde fui, cada ingresso custou R$ 25).

Pensei também que o filme iria bombar absurdamente e que um bando de fanáticos pelo U2, como a turba que enfrentei na tentativa frustrada de comprar o ingresso da turnê Vertigo no Brasil, em 2006, iria reaparecer, mas fui comprar meu ingresso, antecipado, na hora do almoço e, nada. Havia muitas vagas no cinema (sinal dos tempos?, afinal não estamos mais em 1988).

Por que, olha, depois que assisti ao filme, eu acho que deveria começar a ter uma fila enorme, pois é a mesmíssima coisa que estar num estádio, assistindo o show. Entretanto, é a sensação de assistir os caras da boca do palco, a partir da área vip e não naquele esquema de ver todos eles com tamanho de Falcon, no máximo.

Os óculos 3D são agora um pouco mais simpáticos, não é mais aquele trequinho de papel, com um celofane rosa de um lado e um amarelo do outro. Já no teste, passaram umas cenas de filmes da Pixar e fiquei impressionado.

O filme foi rodado justamente nos shows da perna latino-americana e australiana da turnê Vertigo e o filme começa com imagens muito bacanas do público no Morumbi, com a imagem linda de uma fã, correndo sozinha nos corredores do estádio e os primeiros fãs brasileiros chegando na boca do palco.

É evidente, o show começa com Vertigo, com closes absurdos (aliás, dá para ver bem como o Bono está ficando velho e feio). A tomada que mais impressiona é a aérea da bateria, pois dá toda a dimensão do instrumento. Os closes de palco são perfeitos e dão a dimensão real do palco que, analisado friamente, não é gigante. O U2 toca coeso e os músicos não estão muito distantes uns dos outros ali dentro.

Nos números em que o U2 usa as extensões do palco, como quando Adam Clayton caminha por uma delas, em New Year´s Day e Where The Streets Have no Name debulhando o baixo, quando ele se vira para o lado oposto ao que está, o braço do baixo invade o público. É incrível, mesmo.

Mas o número que fica melhor na nova tecnologia é Love and Peace (Or Else). Quando Larry vai ao palquinho tocar o kit reduzido, Bono aparece ao fundo e percebe-se nitidamente a distãncia entre ambos naquele momento reluzente do baterista no palco, sua estréia nos vocais também, aliás.

Edge sobra no filme. Quem gosta de seu jeito de tocar pode aprender vários truques vendo U2 3D e conhecer também cada detalhe das “n” guitarras que ele usa no show.

O show fez uma edição perfeita de trechos de diferentes shows em São Paulo, Buenos Aires, Santiago, Cidade do México e Melbourne parecendo uma performance realmente única, mas não é. A sincronia precisou ser perfeita. Em Where The Streets Have no Name, quando Bono vai citando os nomes dos países, o áudio, por exemplo, era do Brasil, pois na hora em que ele fala Argentina, o público vaia tremendamente, como aconteceram nas duas noites de show, infelizmente.

Entretanto, o público do Monumental de Nuñez deu show, como sempre (para quem não sabe, os argentinos são o melhor público de rock do mundo na atualidade. Os Ramones já diziam isso há séculos). Nas imagens da platéia, são eles que mais aparecem, pois tem uma bandeira platina o tempo todo na platéia. Mas não fiquem tristes brasucas, pois assistir um show do U2, mesmo na Argentina, não tem preço.

Só para terminar, o áudio é coisa de outro mundo e o filme tem 85 minutos. Afinal, sincronizar os diversos shows e fundir tudo com essa nova tecnologia de filmagem não deve ser nada fácil.

Como o filme está em cartaz em Sampa, acho que vale o serviço. Você pode assistir U2 3-D nos seguintes cinemas da capital:

Bristol 1, Eldorado 9, Iguatemi Playarte 1, Market Place Cinemark 6 e Plaza Sul 2

SET LIST:
Vertigo
New Year's Day
Sometimes You Can't Make It on Your Own
Love and Peace (or Else)
Sunday Bloody Sunday
Bullet the Blue Sky
Miss Sarajevo
Pride (In the Name of Love)
Where the Streets Have No Name
One
The Fly
With or Without You
Yahweh

sábado, 2 de agosto de 2008

U2, Rattle and Hum (1988)


direção: Phil Joanou

Voltamos 20 anos no tempo. Aos 14 anos minha vida estava numa encruzilhada. Como um bom adolescente nerd, cdf, inteligente, cegueta, etc e tal, meia boca nos esportes e péssimo com as garotas, minha vida era absolutamente miserável. Mas, Deus me deu uma chance: eu tinha bons amigos e Santos tinha uma rádio rock.

Lembro muito bem. Era 1987 e o U2 tinha lançado The Joshua Tree. Às vésperas do Grammy de março de 1988, a 95,3 FM, a antiga rádio rock de Santos, tocou “Where The Streets Have no Name”, o novo single do U2. E eu pensei comigo mesmo: “cacete, que porra é essa?, isso é que é música!”.

A mesma rádio tocava naquele outono “The Dead Heart”, do Midnight Oil, “Strangelove”, do Depeche Mode, “Perfect Kiss”, do New Order, “Tears Run Rings”, com Marc Almond... Acho que até Billy Brag tocava nessa rádio, Stray Cats... Putz, era sensacional. Era uma rádio dentro de seu tempo, não o que gente vê nas rádios rock de hoje, que só tocam clássicos ou só o lixo do momento, e não encontram mais um ponto de equilíbrio. A 95 procurava tocar o lado B também. Lembro de um especial fantástico sobre Joy Division, outro sobre o Velvet Underground, o primeiro com um texto emocionante, salvo engano do grande Lane Valiengo.

Dali em diante, minhas noites solitárias, ouvindo música romântica deprê na Tribuna FM, curtindo alguma fossa deprimente por causa de alguma garota bonitinha da escola ou porque tinha perdido no jogo da escolinha de basquete ou sido o penúltimo ou último escolhido na educação física, já eram. Foda-se, eu era agora um soldado do rock and roll. Havia encontrado meu Deus e minha cura.

U2, claro, passou a ser uma obsessão. Comecei a ir atrás de tudo deles. O primeiro “disco” foi uma fita k7 oficial do Joshua Tree. Logo arrumei alguém que tinha o disco e xeroquei as letras, ou copiei a mão mesmo. Um belo dia saiu a notícia de que sairia um filme, pois é, gente, um filme de cinema, com o U2!!!! Era o máximo que eu poderia chegar perto de Bono, Edge, Adam e Larry.

Esse filme era Rattle and Hum e ele mudou minha vida de novo. Lembro que fui ao cinema na primeira semana de exibição, num dia de semana, salvo engano, uma quarta-feira, à tarde. No cinema encontro um grande amigo meu que não vejo há anos, o Cirano. Ele era o meu ídolo. Um pouco mais velho, Cirano era o bad boy da escolinha de basquete. Baiano, diferente, cabelo jogado para cima, era realmente um rock star, sem saber.

Lembro o dia que ele me convidou para ir até a casa dele e me deu uma lata de spray e pediu para que pixasse o quarto dele. A mãe dele era super liberal. E ele tinha amigos que fumavam (cigarro) e bebiam e ele bebia e fumava também. Mesmo passando longe da piração, eu pirava com a música. Teve outro dia genial em que eles apagaram a luz e a gente ficou viajando, uns 40° C do lado de fora, ouvindo Psychocandy, do Jesus, e o Viva Hate!, do Morrissey.

Bem, foi uma surpresa encontrar o Cirano no Indaiá porque fui eu que apresentei U2 para o Cirano e ele sempre falava mal. A opinião dele só mudou um pouco depois que eu levei o “Unforgettable Fire” para ele. Encontrei o cara no final da sessão, chorando, e ele falou: “Vamos ficar quietinhos aqui na frente que a gente vê o filme de novo”... Hahaha, foi demais...

O que era aquilo? Que força era aquela que movia o U2 naqueles tempos? Eles queriam o mundo. E nos apresentaram outro mundo, cruzando a América daquele jeito. Quem viu esse filme e não chorou na cena em que o Larry se emociona ao falar de “Granceland”? Ou estranhou a forma cortês e irlandesa de ser durante o false start de “Angel of Harlem”. E a grande sacada do U2 e do diretor Phil Joanou que, principalmente, é um grande fotógrafo de cena, foi não apenas filmar o tour de “The Joshua Tree”, mas a viagem do próprio U2 no rock americano.

Foi a primeira vez que ouvi “All Along The Watchtower”, “Ruby Tuesday”... Foi a primeira vez que ouvi falar de Charles Manson, “Helter Skelter” (nenhum amigo meu tinha, na época, o “Álbum Branco”). Nossa, ver uma apresentação de “Bad” ao vivo era impensável naqueles tempos. A música renasce no filme, mas ficou de fora da trilha em disco, uma vez que já tinha recebido uma versão ao vivo no EP “Wide Awake in America”.

Saí do cinema decidido que fazer música seria minha vida. Três anos depois, minha primeira e modesta banda, a então Nowhere Band, estreava no palco da escola estadual onde estudava. Tinha 17 anos. Vivi o sonho por mais cinco anos, até 1996, quando o jornalismo me levou para outra dimensão, mas nunca te esqueci Rock and Roll.